OCUPANDO O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO

Archive for fevereiro, 2014

Posicionamento público da Rádio Várzea em relação ao caso de Machismo

Após uma série de cobranças internas e externas, por sorte elas existiram, a Rádio Várzea Livre vem por meio desse comunicado se posicionar publicamente sobre um caso machismo ocorrido no ano de 2010 entre um casal de ex-membros do coletivo, conhecido como “caso Xavier”. Tal evento foi amplamente divulgado no campo da esquerda e reverbera até os dias de hoje.

Não nos cabe reconstituir os fatos. Apenas difundir uma autocrítica e algumas reflexões. Tendo em vista que um coletivo autogerido se constrói em movimento, ou seja, a partir de uma relação dialética entre reflexão e prática, não podendo ter medo de criticar a si mesmo e, sobretudo, receber criticas, julgamos necessário fazer a autocrítica dos erros da Rádio em alguns aspectos – não interessa se involuntariamente ou não – pelo fato de sermos um coletivo social, que ocupa um espaço público.

Seguem alguns problemas que xs integrantes do coletivo identificaram na forma de lidar com a questão. Tanto no ano de 2010, quando houve a publicização do caso, quanto no ano de 2011, após o escracho ao Xavier, a Rádio:

 

1- tratou a questão como de foro íntimo/pessoal, ou seja, privado;

2- buscou atuar no caso de maneira particular, pois acreditava que assim, estaria preservando os dois após a publicização pelo escracho;

3- não colocou a discussão sobre práticas machistas dentro do coletivo de forma pública, para estabelecer um debate sobre tal tema na Rádio;

4- através de seus integrantes, naquele momento, embora reconhecessem e apontassem o comportamento (inclusive para o próprio envolvido) como uma prática machista, trataram a questão como algo mais patológico do que social;

5- não houve uma reflexão por parte da Rádio, naquele momento, enquanto coletivo, sobre o cerceamento de espaço que a mulher agredida estava sofrendo na medida em que o agressor permanecia no coletivo sem sequer haver uma conversa pública do coletivo a respeito da situação.

 

Por mais que participassem da mesma lista de e-mails, e por vezes, se encontrassem em atividades da Rádio, a violência à mulher se consolidou na medida em que não houve nenhuma discussão publica sobre o assunto – ou seja, não houve reflexão sobre o constrangimento e sobre a violência que ela e, inclusive outras mulheres e até homens, pudessem estar sentindo com a presença do autor da prática machista, sem qualquer tipo de discussão e tomada de decisão pública sobre essa situação.

Pensou-se pouco sobre o constrangimento da agredida. Xs integrantxs da Rádio procuraram “cuidar” da questão do agressor (novamente, mais de uma maneira patológica do que social) e não houve essa mesma diligência com relação à agredida. Por mais que ele fosse um militante orgânico da rádio e ela não, essa foi uma postura errada por parte das pessoas que compunham o coletivo.

A partir do segundo semestre de 2012, quando Xavier voltou a frequentar as reuniões da Rádio:

 

1- o coletivo aceitou a volta dele sem problematizar e discutir tal questão;

2- continuou tratando com algo privado e não público;

3- continuou a não se posicionar publicamente.

 

Diante dos fatos constatados acima, esboçamos agora algumas reflexões por nós desdobradas.

Sobre o escracho: reconhecemos que enquanto os casos de machismo forem tratados de forma privada, a prática do escracho se colocará como uma das alternativas para se romper essa lógica. Reconhecemos, por consequência, a efetividade desse escracho no sentido de suscitar a urgência inapelável da discussão, problematização, luta e superação do machismo no campo da esquerda.

Não há, no entanto, uma posição consensual no coletivo sobre a legitimidade do escracho como prática política inquestionável. A denúncia é para nós, sem dúvidas, absolutamente necessária no sentido de expor a violência cotidiana sofrida pelas mulheres, de retirar do terreno do não-dito essa prática tão naturalizada em nossa sociedade. É fundamental também por provocar reflexões sobre a necessidade de autocrítica e amadurecimento político constante nesse campo da luta, e encorajar possíveis vítimas a se manifestarem. Porém, o escracho pode significar a reprodução de um sentimento autoritário de justiça, baseado numa lógica punitiva, persecutória, que se nega ao diálogo. A defesa da segurança das vítimas de violência deve ser prioridade. Todavia, não acreditamos que a exclusão de agressorxs dos espaços de convívio, por si só, represente justiça plena, reeducativa. Se queremos construir uma sociedade sem desigualdades de qualquer espécie, é necessário refletir sobre possibilidades de enfrentamento que vão além do ostracismo do agressor/infrator, fato que isola um problema, ao invés de resolvê-lo totalmente.

Reconhecemos que os erros cometidos nesse processo pela Rádio Várzea estão intimamente ligados com a descontinuidade da existência de espaços de formação no coletivo. Para ajudar a romper com o machismo é preciso que esses espaços existam – sejam reuniões, oficinas ou programas.

Mais uma vez reafirmamos nossa abertura e nosso desejo de contar com o apoio de coletivos que estão na luta contra o machismo para trocarmos ideias e experiências, pois sabemos das nossas limitações e também dos nossos desejos em superá-las. Lamentamos muito a todxs aquelxs que se sentiram agredidxs ou constrangidxs nesse período em que não houve posicionamento público do coletivo e reafirmamos que nossa disposição sempre foi e continuará sendo em avançar nas lutas contra machismo.

Temos a plena convicção de que esse comunicado não resolveu a questão do machismo no coletivo. A caminhada é longa e cheia de percalços. Não somos melhores porque estamos refletindo sobre nossas práticas e posturas. Não somos mais conscientes. Não se trata disso. É apenas uma reflexão. Os problemas continuam e estamos há tempos buscando enfrentá-los.

Lamentamos a demora no posicionamento público. O tempo político da Várzea foi mais longo do que a sucessão de acontecimentos.  O tempo político da Várzea se estendeu além do momento. Mas não temos certeza se poderíamos ter feito de forma diferente. O que sabemos é que não podemos mais permitir o machismo, em hipótese alguma. Diante de tudo isso, é preciso dizer, ainda, que foi o Xavier que se afastou da Rádio Várzea a partir de uma decisão pessoal.

Diante da necessária e efetiva publicização do caso, reconhecemos que não existe qualquer possibilidade de sequer discutirmos o retorno do ex- integrante ao coletivo sem que haja uma discussão pública sobre isso e um reconhecimento público dele sobre seus erros.

 

Saudações Livres, Rádio Várzea livre do rio pinheiros.107.7 FM

Reuniões de Quarta-feira às 18:00.

Se for pra somar então chega aí.


Boas Vindas aos Calouros da USP !!!

 

Estudou muito, noites perdidas, festas que você deixou de ir, horas e mais horas se preparando… e finalmente veio a tão merecida recompensa aos seus esforços, a aprovação no vestibular. Bate aquele sentimento de dever cumprido, um sentimento de conquista, uma exaltação aos seus méritos, não é mesmo? Os que não entraram, seus “concorrentes”, azar o delxs, afinal, não se esforçaram tanto quanto você. É hora de festejar, bebemorar, ser pintado, ir para o farol pedir dinheiro e, como não podia deixar de ser, ser chamado de “bixo” e “ bixete”. Né não ?!?

Se orienta!!!!!

Dá licença. Aqui é Radio Várzea mandado um papo reto na sua oreia. Meritocracia não cola com a gente não. Lembremos que a felicidade dos aprovados tem um lado invisível e injusto, daquelxs que não conseguiram uma vaga no condomínio racista universitário. Não fechemos os olhos às desigualdades sociais dessa cidade, pois obter essa “aprovação” é mto mais fácil pra quem estuda nas melhores escolas do Vale Encantado do rio Pinheiros ou nos outros Vales Encantados por ai, pra quem se pá nunca trampou durante os estudos básicos e ainda conta com uma relevante estrutura material de vida. Reflita, ter entrado na USP pra você foi o cumprimento de mais uma etapa, você é fruto do investimento do capital da sua família. Onde está o “mérito” nisso?! Tem muita gente que é privilegiadx desde o berço, talvez não haja problema nisso, desde que se entenda que seu caminho até aqui foi MUITO mais fácil que o de alguém pobre, negrx, das Quebradas de SP.

Num mundo muito diferente do mundo dos “boys”, existe um mundo mais real, da maioria que não teve apoio pra bancar os estudos e com isso teve que estudar na escola publica normal (muito mais sucateadas que ETES e ETECs), que durante seus estudos – com vários problemas e qualidade baixíssima – tiveram que trampar. Muitas e muitos tiveram que abandonar o projeto de ensino superior pra colocar grana em casa, muitas e muitos não tiverem o suporte social que você teve sobre sexualidade e já são mães e pais de família. MUITAS e MUITOS a PM, pra defender a propriedade privada e a ordem militar, mandou pra vala ou pra cadeia. Para aqueles e aquelas que a escola não matou o sonho e a PM não matou o corpo, a FUVEST, com seu elitismo cada vez maior, tratou de deixar as coisas no lugar. Ou seja, Pobre na USP só pra trampar. Se for homem branco tem mais chance, se for Mulher, Negro ou Negra, a USP e sua elite intelectual não tão muito a fim não.

Para aqueles que são de quebrada e passaram por tudo isso, também não há mérito parceirx. Tem é a responsa de saber que você é exceção. Quantxs parças seus não conseguiram e por quê?! Nem vem com esse besteirol de esforço, essa ideinha aqui não mano, isso é ideia de “boy”, pra nois não serve. É como diz o Brown, “Duas vezes melhor como, se nois tamo dez vezes atrasado. Quem inventou isso ai ?! QUEM FOI O PILANTRA QUE INVENTOU ISSO AI ?!”. Mas pra aliviar um pouco as coisas, você talvez encontre parceirxs que mesmo tendo privilégios souberam reconhecer sua condição e te tratam de igual pra igual. Esses são pra toda a vida, serão parças de luta.

Sugerimos que você conheça o cotidiano do espaço público que agora você ajudará a ocupar. Além das salas de aula e anfiteatros, há outros lugares em que se produz conhecimento crítico, propositivo. Coletivos importantes na luta por uma USP mais POPULAR E PRETA, como o Núcleo de Consciência Negra, Quilombo que desde 1987 se propõe a pensar em políticas de inclusão e transformação social no espaço universitário e em outros guetos da vida. Cola lá: fica na Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, travessa 4, bloco 3, Cidade Universitária (Galpões atrás do Shopping FEA). Fique sabendo que o NCN vem sofrendo sistemáticos ataques da Reitoria da USP para ser arrancado do seu espaço físico e histórico dentro da USP. Por que será, né?!?!

Você está na USP, uma das universidades mais RACISTAS do BRASIL.

AQUI É RV, MANDANDO UM SALVE PRA VC. TAMO JUNTO, 4P!!!

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