OCUPANDO O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO

Archive for junho, 2012

O que fica da nossa retomada das atividades de formação da Rádio Várzea…

… dentre tantas questões que foram, de forma rica e divertida, lidas e discutidas por nós (e que seria impossível, ainda bem!, aqui reproduzir):

“A legislação brasileira para comunicação está firmada num processo de concessão que só beneficia políticos e empresários, não garantindo meios democráticos para disseminação de uma informação livre de interesses, e muito menos para o exercício da nossa liberdade de expressão.

Então, aqui vai nosso recado: confisquem nossa antena, e duas outras surgirão. Destruam um transmissor, faremos dois! O Movimento de Ocupação do Latifúndio Eletromagnético não cessará enquanto o ar não for livre! O ar é de todos e precisa deixar de ser ferramenta de dominação das grandes corporações midiáticas que o Estado insiste em defender.” Manifesto da Rádio Várzea Livre: QUEM COMUNICA SE ESTRUMBICA!

“O ponto principal da contenda [entre as rádios livres e comunitárias] reside no fato de que os radioativistas não querem uma concessão nesses termos legais, sua demanda não é pontual, ao contrário, questionam leis absurdamente restritas às pequenas rádios e outras tantas obscuras negociadas diretamente com as grandes corporações, as quais quase a totalidade da população desconhece. O movimento de rádios livres é antes uma forma de manifestação anti-sistêmica.

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Atividade Coletiva de Formação Política — a história das Rádios Livres e da Várzea

Nossa Atividade de Formação da Rádio Várzea Livre — a primeira das três que programamos para junho, julho e agosto — será nesta quinta-feira, dia 28 de junho, às 18 e 30, em nossa salinha de rádio.

Nessa oportunidade, iremos ler e conversar um pouco sobre a história das Rádios Livres no Brasil, e da Rádio Várzea em particular. Para tanto, selecionamos alguns textos curtos e importantes para a história do movimento de rádios livres — que, assim pretendemos, nos auxiliarão no debate que iremos promover.

Dentre os textos escolhidos, podemos destacar (para acessá-los é só clicar no nome do próprio texto, assinalado em laranja!):

Por que calar as Rádios Livres? — esse artigo realiza, a partir de uma denúncia da repressão ocorrida pela Rádio Muda naquela ocasião, uma reflexão coletiva e crítica sobre o papel das rádios livres como experiências de luta coletiva e autogestionária. Ele cumpre, assim, o papel de pontapé inicial para a discussão acerca da história e importância das rádios livres no Brasil.

Já os textos (todos eles bem curtos, de rápida leitura) que falam um pouco de nossa história e ideias já construídas são:

Rádio Várzea: novas ondas, novas idéias — um manifesto escrito pelas pessoas que faziam a Rádio Várzea Livre acontecer em 2004.

Manifesto da Rádio Várzea Livre: QUEM COMUNICA SE ESTRUMBICA! —  um manifesto redigido em 2001 pelas pessoas que hoje fazem parte da Rádio Várzea Livre.

Fica combinado, então, que esses três primeiros textos são fundamentais para a leitura de todos nós que iremos participar dessa atividade (claro que se você não conseguir ler antes, tudo bem — é só aparecer e participar igual!).

Como complemento desse contexto, o nosso histórico de repressão estatal e empresarial também é parte importante, infelizmente, de nossa trajetória de luta, re-existência e criação. Por esse motivo, nunca é demais resgatarmos esses momentos marcantes em que, ao invés de desistir, resolvemos lutar e continuar a nossa caminhada:

Polícia Federal apreende equipamentos da Rádio Livre Várzea do Rio Pinheiros;

[RADIO LIVRE] POLÍCIA FEDERAL ROUBA EQUIPAMENTOS DA RÁDIO VÁRZEA;

e

Rádio Várzea é atacada pelo Grupo Bandeirantes!

A dinâmica proposta para essa atividade ultrapassa, em muito, a ideia de apenas lermos os textos aqui indicados. Na verdade, queremos muito mais é aproveitar esse momento de encontro e compartilhamento para conversarmos coletivamente. A história da Rádio Várzea Livre foi e é escrita todos os dias por todos nós — e, por esse motivo, todos têm muito a dizer e participar.

Como leitura complementar — textos que não necessariamente serão lidos nessa atividade que iremos promover, mas que são importantes para a nossa formação coletiva de rádios livres —, indicamos: Rádios Livres Brasil — Breve História (1ª parte);  Rádios Livres Brasil — Breve História (2ª parte); e o livro Rádios Livres: a reforma agrária no ar.

Como sempre, estão todos convidados a comparecer e participar. É só chegar.

Saudações Radiofônicas livres!

RÁDIO VÁRZEA LIVRE do Rio Pinheiros — SINTONIZE E PARTICIPE!   107, 1 FM LIVRE!


Rádios Livres Brasil — Breve História (2ª parte)

A Rádio Várzea acredita que história é luta e que um dos nossos papéis é, justamente, escrevermos a própria narrativa de nossa complexa, difícil e feliz trajetória coletiva de criação, experimentação e militância. Eis, então, uma breve visão histórica, escrita por Rodney Brocanelli,  sobre a atuação das rádios livres no Brasil. Essa é a segunda parte deste artigo. A primeira parte aqui está.

Nunca é demais lembrar que, como já dissemos aqui sobre a história das rádios livres europeias, uma das melhores formas de continuarmos a renovação, crítica e superadora, de um movimento autônomo passa pelo conhecimento de sua história de luta e debates. Eis aí, portanto, uma parte dessa tarefa coletiva.

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As emissoras que foram sendo colocadas no ar depois de março de 1994 apresentavam um perfil diferente das que vieram antes. A saber: rádios com projetos comerciais e rádios ligadas a grupos religiosos.

Curioso notar que a Reversão, uma emissora anarquista foi quem possibilitou a proliferação de rádios com fins lucrativos. As rádios com caráter comercial surgiram a reboque da absolvição de Léo Tomaz. Não possuem base ideológica. A filosofia dessas novas emissoras é ganhar dinheiro.

Vendem anúncios aos comerciantes do bairro e horário de programação. Um programa de duas horas pode chegar a custar ao bolso do apresentador de R$ 200,00 a R$ 400,00.

A programação musical não difere muito das rádios FMs comerciais.

Dentro do movimento de rádios livres, as rádios que possuem uma filosofia comercial não são bem-vistas. Porém, existe uma resposta na ponta da língua aos que criticam essa prática:

“Tem anúncios sim, senão, como é que eu vou viver, como vou comer?”, é o que disse Valmir Ribeiro Torres, dono da Rádio Nova Geração em entrevista a jornalista Marisa Meliani.

Para algumas pessoas que militam há mais tempo no movimento, emissoras como a de Valmir colaboram para que exista um preconceito vindo por parte dos formadores de opinião. Além disso, a venda de horários e espaço comercial é munição certa para os inimigos das rádios livres, leia-se rádios oficiais. Nenhuma dessas emissoras com caráter comercial está devidamente registrada. Não pagam impostos e enc argos trabalhistas. Aliás, nem é necessário muito esforço para não pagar as obrigações trabalhistas. Os funcionários recrutados pelos “comerciais” são em geral gente desempregada, jovens locutores que saem de cursos de locução de fundo de quintal e veteranos locutores que já não tem mais espaço no rádio.

Outro tipo de rádio livre que proliferou no dial foram as de cunho religioso. A intenção é clara: difundir a “palavra de Deus”. são mantidas com apoio do comércio das regiões em que operam (leia-se comerciais).

Diferentemente das rádios de filosofia comercial, quando uma emissora evangélica vende anúncios o objetivo é investir em equipamentos de transmissão e melhora na propagação do sinal. O programa típico de uma rádio religiosa é o que mistura a pregação de um pastor no estúdio e hinos religiosos.

Alguns cultos são transmitidos diretamente dos templos. Uma das rádios que mais se destacou nesse setor foi a Free FM, situada no bairro da Vila Nova Cachoeirinha. Sua programação abre espaço para igrejas de variadas tendências como a Presbiteriana, a Batista, e a Assembléia de Deus e Deus é Amor.

Na Free é proibido vender anúncios e até pedir doações. Outro mantenedor de rádio evangélica é contundente nas críticas: “O negócio do Edir (Macedo) é ganhar dinheiro. A rádio livre não está preocupada com isso”, diz Paulo de Oliveira, que montou a Rádio Central FM.

As rádios evangélicas despertam dentro do movimento de rádios livres sentimentos diferentes. Alguns, claramente agnósticos, são contrários ao uso do rádio para pregar mensagens religiosas. Outros são mais tolerantes. Mas não se pode esquecer que se a luta das rádios livres é pela democracia na comunicação, todos devem ter acesso ao meio, independente de credo.

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Rádios Livres: a reforma agrária no ar [Completo!]

Disponibilizamos, aqui em nosso site da Várzea, a edição completa do livro “Rádio Livres: a reforma agrária no ar” [para acessar o livro é só clicar na imagem aí ao lado, ou então aqui!].

Publicado, pela primeira vez, em 1986, esse trabalho coletivo é um dos primeiros registros históricos de fôlego do “jovem” movimento de rádios livres brasileiro — que começava a engatinhar e ganhar força nas décadas de 1970 e 1980.

O livro conta um pouco dessa história inicial do movimento de rádios livres aqui no Brasil, além de relatar também a importante experiência de luta e organização das rádios livres na Europa e América Latina.

Vale chamar atenção, ainda, para algumas preciosidades que podem ser deliciadas por todos que tiveram a oportunidade de realizar essa leitura: vocês poderão conferir a transcrição de sensacionais transmissões da Rádio Alice (da Itália) e da Rádio Xilik! (de São Paulo), além de terem acesso à vários manifestos e panfletos produzidos de forma autogestionária por inúmeras rádios livres que pipocavam pelo país naquele momento.

Para fechar com chave de ouro essa nossa apresentação, cabe dizer que o livro conta ainda com um sensacional prefácio sobre o movimento de rádios livres brasileiras do filósofo (e rádiolivrista!) Felix Guattari — que, durante a década de 1970, foi um dos principais apoiadores ativos da Rádio Alice. Nesse mesmo período, Guattari também participou de uma experiência interessantíssima nas periferias francesas, montando a Rádio Tomate (nome em homenagem aos italianos da Alice), uma rádio livre autogestionária que dava voz aos imigrantes africanos em Paris. Ou seja, imperdível esse livro!


Neobandeirantes [Rádio Várzea no Brasil de Fato]

Naquele período em que a Rádio Várzea Livre foi mais intensamente atacada pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, a notícia rapidamente se espalhou e muita gente divulgou nossa denúncia e chamado de resistência e solidariedade.

Mas, vejam só como o mundo dá voltas, ficamos sabendo recentemente de uma excelente notícia. Silvio Mieli — jornalista e professor da Faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (PUC – SP) — publicou na edição 455 do jornal Brasil de Fato (final de Novembro de 2011). um baita artigo importante reverberando a nossa denúncia e fazendo um paralelo bem legal com a ideia do que o bandeirante representou na história do Brasil.

Cabe destacar o seguinte trecho: “Além disso, se entrarmos no quesito da cobertura midiática, durante o processo de desinformação que antecedeu a desocupação da reitoria da USP, sobrou até para a Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros (107,1 FM), importante projeto que funciona no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Depois de demonizarem alunos e funcionários envolvidos com os protestos em geral, a Rádio Bandeirantes exigiu o fechamento imediato da rádio livre que funciona a partir da USP“.

Vale a pena ler esse curto artigo — que espalhou, mesmo sem a gente nem saber, a sintonia e vibração da Várzea Livre por diversos acampamentos, assentamentos, ocupações e pra muita gente que também está na luta aí pelo Brasil. E, claro, agradecemos ao Silvio pelo artigo e solidariedade que ele demonstrou em relação à nossa iniciativa e luta autogestionária.

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Neobandeirantes

 A atuação da PM na USP e as discussões posteriores à tomada da reitoria lembram as ações dos nossos ancestrais, os bandeirantes

24/11/2011

Silvio Mieli

Não nos livramos facilmente dos arquétipos históricos. A atuação da PM na USP e as discussões posteriores à tomada da reitoria lembram as ações dos nossos ancestrais, os bandeirantes.

O bandeirismo, fenômeno tipicamente paulista – patrocinado por senhores de engenho, donos de minas e comerciantes – está impregnado no corpo e na alma paulistana. A “elite” daqui se orgulha de ser herdeira dessa “brava gente”. A pegada bandeirante pode ser reconhecida na forma agressiva como o paulista ocupou o seu território; na avidez como explorou os seus recursos naturais; na arrogância expansionista (a “locomotiva do país”); no modo desumano e preconceituoso como sempre tratou aqueles que construíram a sua riqueza (chamados pejorativamente de “nortistas”).

No fundo, alguns dos principais problemas da USP (autonomia, gestão, segurança, administração do espaço público) compõem o microcosmo das mazelas do próprio estado de São Paulo. Só que a comunidade paulista, ao invés de aproveitar a oportunidade oferecida pela crise uspiana e ampliar o debate em torno da falta de democracia interna (que leva setores da universidade a radicalizarem a sua postura); na gestão incompetente de uma instituição pública; na restrição do acesso ao campus nos finais de semana, reduziu a riqueza do debate à intervenção da PM, incapaz de lidar com as particularidades de uma universidade. Além disso, se entrarmos no quesito da cobertura midiática, durante o processo de desinformação que antecedeu a desocupação da reitoria da USP, sobrou até para a Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros (107,1 FM), importante projeto que funciona no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Depois de demonizarem alunos e funcionários envolvidos com os protestos em geral, a Rádio Bandeirantes exigiu o fechamento imediato da rádio livre que funciona a partir da USP.

Há muito tempo, a Bandeirantes, fazendo jus ao nome, parte para o ataque na caça aos movimentos sociais, estejam onde estiverem. Através de reportagens especiais, editoriais virulentos e vinhetas alarmantes ao longo da programação, boicotam diuturnamente qualquer iniciativa que coloque em risco o modelo neobandeirante como, por exemplo, a campanha contra a demarcação da Raposa Serra do Sol e o apoio irrestrito às mudanças no Código Florestal. Também repetem o mantra que “rádio pirata” derruba avião, boicotam qualquer tentativa de desarmamento e decretam que o MST não é um movimento social.

O sonho dourado da elite paulistana, que se considera moderna e cosmopolita, seria assistir à entrada triunfal de Domingos Jorge Velho, Antônio Raposo Tavares, Fernão Dias Pais, Manuel Borba Gato, espingardas em empunho, pela várzea do Rio Pinheiros ou então pela Avenida Paulista. Finalmente “colocariam a casa em ordem”.

Silvio Mieli é jornalista e professor universitário.


Como fazer um fanzine?

Publicamos, logo abaixo, um vídeo bem interessante e criativo  — que tem, como principal intenção, ensinar a produzir um fanzine de forma simples e didática. Nós, aqui da Rádio Várzea Livre, já utilizamos algumas vezes essa forma autogestionária (faça você mesmo  — façamos todos, coletivamente!) de linguagem e comunicação para a divulgação de nosso coletivo e atividades que tocamos por aí.

Em breve (quem sabe e se tudo der certo…), nós iremos digitalizar os nossos zines antigos da Várzea — além de começar a pensar na elaboração e distribuição de novos materiais (zines) em nossas atividades e oficinas.

O vídeo está em espanhol  — mas, como vocês poderão conferir, a nossa língua irmã não atrapalha em nada a mensagem que está sendo passada. Esse vídeo foi elaborado pelo pessoal do Jerseys para los Monos — um pequeno coletivo das Astúrias e Madri (Espanha), que distribui diversos zines de forma independente. Cabe chamar atenção ainda, e pra fechar, para a interessantíssima cena atual de zines da América Latina. Sendo um pouco injusto com a riqueza de tantos trampos por aí, fica aqui apenas um único exemplo (de um projeto bem legal, lá do Equador): a Fanzinoteka.

É isso, confiram aí o vídeo!

Saudações Radiofônicas livres!

RÁDIO VÁRZEA LIVRE do Rio Pinheiros — SINTONIZE E PARTICIPE!   107, 1 FM LIVRE!