Da Mídia Tática ao Pós-Mídia
Salve! Seguindo o momento de expansão da mente e formação política acerca da comunicação livre em todas as suas possibilidades, temos a satisfação de publicar um texto muito massa traduzido por um parceiro da nossa livre e querida Rádio Muda, de Campinas!! Sem muitas considerações por ora, recomendamos a leitura. O texto segue abaixo e foi retirado da lista nacional de rádios livres:
Refazendo as Pŕaticas de Mídia: da Mídia Tática à Pós-Mídia
By Clemens Apprich, 14 February 2013
trad. Thiago Novaes
Se a teoria de mídia compreendeu amplamente a mídia, ao longo dos últimos 40 anos, como irremediavelmente contaminada pelo capitalismo, o quietismo implícito desta crítica também encontrou seu desafio no conceito de Guattari de “tornar-se-mídia ‘. Aqui Clemens Apprich revisita debates políticos de mídia centrais para imaginar abordagens pós-mídia na era das mídias sociais.
O pressuposto de que as mídias “antigas” não são simplesmente substituídas, mas sim dialeticamente preservadas pela “nova” mídia é tão antigo quanto os estudos de mídia em si. No entanto, não é só a superação do antigo no novo que caracteriza o desenvolvimento de tecnologias de meios, mas o acoplamento dos formatos multimídia antigos também leva a uma sucessão de práticas que finalmente fornecem uma nova abordagem para estas tecnologias. Assim, desde o início do século XX, a mídia eletrônica (rádio, televisão, redes baseadas em computador, etc) tem sido afetada por uma inter-relação constante entre a experimentação de vanguarda e a distribuição em massa. O artigo que segue irá traçar algumas das práticas que fizeram uso de novas tecnologias de mídia, a fim de trazer a ideia de Felix Guattari de uma “era pós-mídia”: a transformação das estruturas de mídia clássicas rumo a novos agenciamentos coletivos de enunciação. Na teoria da mídia, esse processo foi acompanhado por um movimento dialético: primeiro nos anos de 1980, a teoria da mídia pós-moderna descartou a crítica da ideologia de Karl Marx e abandonou toda a esperança de um uso emancipatório das tecnologias de mídia, e, posteriormente, o movimento de mídia tática dos anos de 1990 rejeitou este ponto de vista quietista de teoria da mídia (acadêmico), a fim de reinventar novas formas de ativismo de mídia. Este “duplo desengajamento” finalmente abriu novos campos de agência contra-hegemônica, permitindo assim uma variedade de práticas de mídia que ainda são válidas em uma era pós-mídia. Este artigo, portanto, segue a premissa de que a transição da mídia tática para a pós-mídia não deve ser considerada como uma ruptura, mas sim como um “Tornar-se-mídia” dessas práticas que surgiram nos anos de 1990 NOTA1. Neste sentido, as práticas de mídia tática não desapareceram, mas foram incorporadas à vida cotidiana (pós-mídia).
Baudrillard vs. Enzensberger – First Disengagement
Segundo o teórico francês Jean Baudrillard, a massa “não é mais do que o grau zero da política”2. Com isso, Baudrillard apresenta o “grau zero” de significado social, a dissolução do político. Ao contrário da concepção do movimento político de massas de Marx, portanto, é irrelevante se as massas superaram sua suposta alienação, porque a própria massa é o lugar dessa alienação. Para Baudrillard, a massa atingiu o seu ponto culminante. Ela está acelerando em direção ao seu limite, que hoje é expresso como implosão social difusa, em vez de uma explosão revolucionária singular. Isto também se aplica em relação aos meios de comunicação de massa que, de um ponto de vista marxista, têm sido considerados há muito uma força manipuladora:
“Pensa-se sempre – e esta é a ideologia dos meios de comunicação de massa – que é a mídia que envolve as massas. O segredo de manipulação tem sido procurado em uma semiologia frenética dos meios de comunicação de massa. Mas isso foi esquecido, nessa lógica ingênua de comunicação, que as massas são um meio mais forte do que todos os meios de comunicação” […]3.
Assim, as massas não devem ser libertadas dos meios de comunicação, a fim de libertar o seu potencial revolucionário, mas, ao contrário, o meio tem de ser libertado das massas. Nesta visão mais apaziguada, as massas já não produzem mais o social, mas antes o simulam. Na “sociedade da simulação”, o social perde seu sentido, tornando impossível qualquer mudança política. Esta retirada do programa político do marxismo não está só em contradição com a desconfiança generalizada na teoria de esquerda, que vê na mídia (de massa) nada mais do que a manipulação (da massa), mas também, contrária a qualquer esperança de uma estratégia socialista de (re)apropriação da mídia (de massa), como sugerido por Hans Magnus Enzensberger em “Elementos para uma Teoria dos Meios de Comunicação”4.
Em seu ensaio, escrito em 1970, Enzensberger critica a renúncia de um uso emancipatório das novas tecnologias de mídia por membros da geração de 68. Para ele, está claro que a teoria socialista da mídia tem que se apropriar do “poder de manipulação” dos meios de comunicação, se não quiser ser impotente face aos desenvolvimentos tecnológicos:
“Qualquer uso da mídia pressupõe manipulação. Os processos mais elementares de produção de mídia, desde a escolha do próprio meio, o corte, a sincronização, a dublagem, até a distribuição, todas são operações realizadas na matéria-prima. Não existe tal coisa como a escrita, filmagem, ou radiodifusão não manipuladas. A questão não é, portanto, se os meios de comunicação são manipulados, mas quem os manipula. Um plano revolucionário não deve exigir que os manipuladores desapareçam, pelo contrário, deve fazer com que todos sejam manipuladores”.5
A mídia eletrônica constitui, para Enzensberger, uma nova força produtiva cujos sentidos práticos já estão nas mãos das massas. Entretanto, as relações dominantes de produção suprimiriam o “poder de mobilização” dos meios de comunicação, levando assim a uma despolitização das massas: “Na sua forma atual, aparatos como televisão ou filme não servem à comunicação, mas a impedem. Eles não permitem que haja nenhuma ação recíproca entre o transmissor e o receptor”6. Neste sentido, a transição de um simples aparelho de distribuição para uma verdadeira ferramenta de comunicação não é um problema técnico, mas político. Em referência à “Teoria Radio” de Bertolt Brecht, Enzensberger mostra que cada transistor de rádio, dada a natureza da sua construção, é não apenas um receptor, mas também um potencial transmissor7. A separação construída entre transmissores e receptores, portanto, apenas espelha “a contradição básica entre a classe dominante e a classe dominada”, entre a indústria de consciência e as massas controladas8.
De acordo com Enzensberger, a divisão entre produtores e consumidores não está inscrita na mídia eletrônica, mas pode ser atribuída às condições políticas, sociais e econômicas do sistema capitalista. Em sua argumentação, o modelo marxista de fases é claramente reconhecível, segundo o qual as forças produtivas em constante evolução (ou seja, naturais, técnicas, científicas, organizacionais e de recursos intelectuais) estão sendo presas pelas relações de produção vigentes (ou seja, as relações de propriedade, o trabalho , distribuição, circulação e consumo), formando, assim, um modo de produção específico (por exemplo, burguês/capitalismo). Assim, para Enzensberger, é óbvio que a mídia eletrônica faz parte da estrutura econômico-política, ou seja, parte da base material, não sendo simplesmente uma conseqüência da superestrutura ideológica: 9
Com o desenvolvimento dos meios de comunicação eletrônicos, a indústria que molda a consciência se tornou o marca-passo do desenvolvimento social e econômico das sociedades no final da era industrial 10.
A fim de libertar o potencial emancipador das novas forças produtivas das relações dominantes de produção, um modo coletivo de produção seria necessário, orientado para as necessidades e interesses das massas. Dada e repetida, por vezes, mas geralmente insuficiente como crítica das hipóteses emancipação, precisa-se esclarecer que Enzensberger não está simplesmente falando de “bricolage individual” (por exemplo, no salão de jogos de radioamadores), mas sublinhando a importância de novos modelos organizacionais:
Modelos de comunicação em Rede construídos sobre o princípio da reversibilidade dos circuitos podem dar indicações em como superar essa situação: um jornal de massas, escrito e distribuído por seus leitores, uma rede de vídeo de grupos politicamente ativos 11.
A chave para a sua argumentação é uma tentativa de descrever não apenas a mera proliferação de tecnologias de mídia, mas a sua ativação através desenvolvimento dos usos autônomos das ferramentas de mídia.
Em sua resposta, Jean Baudrillard compartilha a opinião de Enzensberger de que não é suficiente transformar simplesmente cada receptor em um transmissor, a fim de quebrar o poder das estruturas de mídia dominantes. Entretanto, para Baudrillard, a mera reversão do processo de comunicação também é insuficiente, porque “reversibilidade não tem nada a ver com reciprocidade”12. Segundo Baudrillard, a própria estrutura de mídia impede – independentemente do modo dominante de produção – qualquer forma de comunicação, porque o aparelho transcende qualquer “mudança real” no nível abstrato do código. O transmissor e o receptor podem realmente mudar de posição, mas assim só reproduzem o velho padrão de comunicação, dentro do qual um pode escolher o código da mensagem e o outro só tem a opção de aceitá-lo ou não. Assim, a mídia (eletrônica) não pode ser (re-) apropriada para um uso emancipatório. Em vez disso, Baudrillard apela por uma substituição do conceito de mídia (de massa) por meio de uma mediação radical:
A rua é, nesse sentido, a alternativa e forma subversiva dos meios de comunicação de massa, uma vez que não é, como os últimos, um apoio objetivado para as mensagens sem resposta, um sistema de transmissão à distância. É o espaço desgastado da troca simbólica de expressão – efêmera, mortal: um discurso que não é refletido na tela platônica da mídia 13.
Assim, uma verdadeira “revolução dos sinais” pode ocorrer, finalmente, fora dos meios de comunicação de massa, como Baudrillard tenta mostrar, usando o exemplo de graffiti 14. Apenas a “insurreição e erupção direta na paisagem urbana, como o local da reprodução do código” permite uma produção coletiva, que é capaz de evitar uma separação entre produtores e consumidores, entre emissores e receptores 15.
De acordo com Baudrillard, não há, portanto, coincidência no fato de que o “revolução da mídia” não tenha ainda acontecido, porque a possibilidade de uma tal revolução “pressupõe uma sublevação em toda a estrutura existente da mídia” 16. Assim, apenas “ações simbólicas” singulares são possíveis, o que pode irritar o sistema dominante, mas não pode vencê-lo. É por causa dessequietismo avassalador que Oliver Marchart vê na abordagem de Baudrillard ainda uma outra versão da tese da manipulação, ou seja, no ponto “onde a crítica da ideologia se transforma em afirmação subversiva” 17. Isso levanta a questão de como delinear uma forma de agência política que não esteja estruturada em uma definição determinista da mídia. Ambas suspeitam profundamente da relação ao poder de manipulação da mídia (paradigma da manipulação), bem como da grande esperança de seu potencial emancipatório (paradigma da emancipação), e, finalmente, apegam-se à ideia de que a mudança social (positiva ou negativa) pode ser derivada diretamente das estruturas tecnológicas: “em ambos os casos, porém com sinais invertidos, a argumentação tende a “reduções tecnicistas” 18. A maneira de sair deste dilema, de acordo com Marchart, surge de um terceiro paradigma da teoria da mídia marxista:. nomeadamente o a da política, que considera a mídia como aparatos hegemônicos.
Tactical Media – Second Disengagement
Uma teoria não-determinista da mídia tenta se libertar tanto do paradigma de manipulação, como remédio, bem como de um paradigma de emancipação excessivamente otimista, que enfatize o paradigma da política. Neste sentido, a questão não é mais se os meios de comunicação, pela natureza da sua construção, são manipuladores ou emancipatórios, mas até que ponto a mídia pode ser entendida como aparelho hegemônico. O conceito de hegemonia, cunhado por Antonio Gramsci, refere-se a um consenso politicamente produzido que constitui o senso comum de um determinado período histórico. Hegemonia serve como um elo entre a sociedade civil (que governa através de consentimento) e a sociedade política (que governa através da força), levando à fórmula bem conhecida: “Estado = sociedade política + sociedade civil, em outras palavras, a hegemonia protegida pela armadura da coerção” 19. O controle sobre o aparato coercitivo do Estado (especialmente a polícia, o judiciário e os militares) por si só não garante a preservação do poder político – ao contrário, exige o “consentimento voluntário” da população subalterna, com vistas a consolidar o poder. Assim, a mídia assume uma maior importância nessa perspectiva: “Os aparatos hegemônicos da sociedade civil são ambos terreno e meio de auto-afirmação dentro de uma luta hegemônica da posição” 20. Que função eles finalmente cumprem nunca está determinada a priori, mas surge a partir da “guerra de trincheiras” pela hegemonia cultural. Tudo mais, como a mídia transporta conhecimento social (em termos de imagens, valores, categorias, classificações e estilos de vida) contribui, portanto, para a construção da identidade hegemônica 21.
A hegemonia, portanto, descreve a capacidade dos grupos dominantes ou classes em estabelecer seus próprios interesses para que eles sejam finalmente considerados como o interesse geral por grupos e classes subalternas. Tal “consentimento dos governados” implica tanto a aprovação explícita das relações sociais existentes, ideias e práticas, ou, pelo menos, a sua aceitação passiva. No entanto, isso não é necessariamente um equilíbrio harmônico de interesses, mas sim uma “condensação” das lutas sociais 22. A resolução dessas lutas acontece através de compromisso social, em que os interesses relevantes (i.e. articulados) são constantemente renegociados. Assim, o acesso a tecnologias de mídia a fim de articular os interesses assume grande importância. A sociedade civil se torna o terreno preferencial em que a hegemonia se coloca, mas também é o lugar onde os conceitos contra-hegemônicos podem evoluir. É neste sentido que se pode olhar na mídia como instrumento político: “A emancipação (ou a manipulação), portanto, pode ser encontrada em políticas emancipatórias (ou de manipulação), e não nos aparatos” 23. Isto implica uma mudança na questão: o que interessa não é a dedução (otimista ou pessimista) das práticas sociais a partir da estrutura tecnológica, mas sim as relações de poder dentro da sociedade.
Uma parte essencial do poder hegemônico implica na capacidade de apresentar o status quo como sendo sem alternativas – se as pessoas estão contentes com ele ou simplesmente desistiram da esperança, não faz diferença para o exercício do poder 24. A hegemonia dominante materializa nas instituições do Estado e se torna a base para as decisões legislativas e executivas. Assim, o potencial emancipatório da agência em desafiar a estrutura discursiva é tão importante quanto a capacidade de agir no próprio terreno institucional. Consequentemente, as ações contra-hegemônicas também não podem ser representadas pela sociedade civil como um todo, porque elas não estão localizadas fora do estado dominante, mas antes contribuem (através de meios de comunicação, associações, instituições educacionais e culturais, etc.) para a sua constituição e reprodução. Assim, as noções e ideias alternativas inicialmente surgem em pequenos setores da sociedade civil, e não em seus mais poderosos:
“O que importa é a crítica de que tal complexo ideológico foi submetido pelos primeiros representantes da nova fase histórica. Esta crítica torna possível um processo de diferenciação e mudança no peso relativo que os elementos das antigas ideologias usadas possuíam. O que antes era secundário e subordinado, ou mesmo incidental, agora é levado a ser primário – torna-se o núcleo de um novo complexo ideológico e teórico. A antiga vontade coletiva se dissolve em seus elementos contraditórios, pois os subordinados se desenvolvem socialmente, etc”. 25.
O Estado e o público em geral continuam a ser áreas importantes de luta política, mas eles não estão necessariamente no centro dela. Agência contra-hegemônica é antes sobre o auto-posicionamento no campo mais vasto da hegemonia.
Um auto-posicionamento assertivo foi central para a “mídia tática” – uma nova forma de crítica da mídia, a qual, após a queda do Muro de Berlim, se espalhou por toda a Europa (e além). Um dos “berços” da mídia tática foi o Festival de Amsterdam “Next Five Minutes” (N5M), onde, no início e meados dos anos de 1990, uma nova geração de ativistas da Internet encontrou uma velha geração de ativistas de rádio e vídeo, levando a uma mudança na definição sobre o ativismo de mídia 26. “O ABC da Mídia Tática”, um quase-manifesto escrito por David Garcia e Geert Lovink, afirma:
“Mídias Táticas são o que acontece quando “faça-você-mesmo” barato de mídia, possibilitado pela revolução no consumo da eletrônica e nas formas expandidas de distribuição (do cabo de acesso público à Internet) são explorados por grupos e indivíduos que se sentem lesados ou excluídos da cultura mais ampla. A mídia tática não apenas relata eventos, pois eles nunca são imparciais e sempre participativos, e é isso, mais do que tudo, que os separa da mídia dominante” 27.
Isto já aponta para o fato de que na luta pelo poder hegemônico um papel de liderança foi atribuído às novas tecnologias de mídia nos anos de 1990. No entanto, a ideia de “faça você mesmo” da mídia é tão antiga como a de “mídia comunitária”, que surgiu nos anos de 1960, a fim de representar os interesses de minorias sociais, culturais e étnicas. Particularmente nos EUA, novas exigências legais obrigam as estações de TV comerciais a cabo a reservarem pelo menos um canal para programas não-comerciais, provendo uma base tecnológica e financeira para a radiodifusão independente. E durante os anos de 1970, a tecnologia de vídeo se desenvolveu rapidamente, resultando na assim chamada “revolução da câmera de vídeo” dos anos de 1980. 28
Na Europa, especialmente naqueles lugares onde já existia uma cena animada de “TV pirata e estações de rádio” (por exemplo, Amsterdam, Berlim, Londres, Bolonha, Vienna, mas também Ljubljana e Riga), provedores independentes de Internet (como a Cidade Digital em Amsterdam ou a Cidade Internacional de Berlim) surgiram com a introdução da WWW, em meados dos anos de 1990. Devido a estas iniciativas, bem como a uma nova queda no preço das tecnologias de informação e comunicação (principalmente o PC, mas também ao acesso mais barato à Rede), a Internet foi finalmente implementada como um meio de massa. Nesse ponto, nascia uma nova geração de ativistas de mídia: “Eles radicalizaram as ideias de meios comunitários, desafiando todos a produzirem seus próprios meios, em apoio às suas próprias lutas políticas” 29. Neste sentido, pode-se falar de uma segunda retirada: enquanto a teoria de mídia pós-moderna dos anos de 1980 (Baudrillard, Kittler, Bolz, etc.) virava uma crítica marxista da ideologia, os anos de 1990 assistiram a uma rejeição dessa “teoria especulativa de mídia”, a fim de inventar novas formas emancipatórias de agência contra-hegemônica 30. Este “duplo desengajamento” de uma teoria da mídia clássica, que postula meios de comunicação como ferramentas de programação ideológica, portanto, abriu uma nova perspectiva teórica no sentido de que não era mais apenas o reflexo das condições da mídia, mas sim sobre a co-criação destas condições (“A mídia determina a nossa situação”, como Friedrich Kittler disse e ficou famoso). É por isso que Geert Lovink, um dos iniciadores do N5M, escreve em retrospectiva:
“As elaborações de Jean Baudrillard sobre a simulação foram úteis nos anos de 1980, quando as mídias explodiram. Aproximando-se do [fim do] milênio, tudo parecia simulado e as elaborações de Baudrillard começaram a soar conservadoras e fora de contato com a atual realidade da Internet”. 31
Para se distinguir da crítica acadêmica da mídia (de massa), os teóricos da mídia tática consideraram suas práticas como “micro-políticas digitais” 32.
Post-Media Strategies
A Mídia tática descreve um conjunto de práticas que estão localizadas no cruzamento da arte, teoria, política, cultura, ativismo, tecnologia e mídia. Esta abordagem pluralista não só desafia a ideia de especialização, mas foi vista realmente como um processo de libertação feita por ativistas de mídia tática nos anos de 1990:
“Havia um sentimento de alívio entre as pessoas envolvidas na mídia tática, que poderiam ser qualquer tipo de híbrido cultural. […] Muitos se sentiram liberados da obrigação de se apresentar ao público como um especialista, a fim de ser um expert”. 33
Como o Critical Art Ensemble (CAE) nota crítica em seu livro sobre mídia tática, é precisamente esta “aversão ao tédio causado por atividade especializada redundante” que incentiva as pessoas a desafiarem a ordem existente com senso criativo 34. Nesse sentido, a mídia tática não se limita apenas à tecnologia digital, mas inclui todas as formas de mídias antigas e novas, a fim de atingir objetivos contra-hegemônicos. O que é importante neste contexto, é a apropriação coletiva dos diferentes formatos de mídia, com vistas a produzir novas formas de conhecimento: “Mais do que simplesmente fazer leitura crítica e teorização, os praticantes [de mídia tática] passam a desenvolver eventos participativos que demonstram a crítica através de um processo experiencial 35. A mídia tática, portanto, posiciona-se fora das instituições tradicionais (ou seja, universidades, instituições de pesquisa acadêmica, museus municipais, galerias, fundações políticas, centros culturais e de mídia), até porque o conhecimento gerado deve ser utilizado para desafiar as estruturas hierárquicas e abrir novos campos de possibilidades além destas instituições 36.
A ideia de uma apropriação coletiva e não-institucionalizada de cultura da mídia, bem como a experimentação conjunta com as novas tecnologias de informação e comunicação tem dado origem a um movimento (global) que desafia as estruturas dominantes (de mídia):
“Por um breve tempo, houve e continua a ser um alívio sobre a tirania da especialização do capital que nos obriga a agir como se fôssemos um conjunto fixo de relacionamentos e características, e para reprimir ou estritamente gerenciar todas as outras formas de desejo e expressão” 37.
Neste contexto, o conceito de “acordo coletivo libertador da enunciação” do CAE se refere à obra de Félix Guattari que, nos anos de 1980, já nutria a esperança de que formas coletivas de articulação poderiam substituir as velhas estruturas de mídia passificantes. De acordo com uma concepção não-determinista da mídia, ele destaca o fato de que o impulso de mudança reside nas práticas sociais, e não na própria estrutura tecnológica: “Obviamente, não podemos esperar um milagre com essas tecnologias: tudo vai depender, em última instância , da capacidade de grupos de pessoas em tomar posse deles, e aplicá-los para os fins apropriados” 38. Ligada a esta declaração está a questão de saber se e como as redes auto-organizadas podem preservar sua autonomia contra a mídia de massa 39. Agindo contrariamente às mídias de massa, que tendem a reproduzir a subjetividade consensual (ou seja, normativa), as mídias alternativas – de acordo com Guattari – permitem a criação de novos modos de subjetivação: “Estamos presenciando uma mutação da subjetividade que talvez supere a invenção da escrita, ou da imprensa, em importância” 40. No entanto, esta nova forma de “subjetividade assistida por computador” não é o simples resultado da mudança tecnológica, mas sim uma manifestação de micro-política que surgiu na esteira de uma nova apropriação de mídia 41.
Guattari considerava a formação destas micro-políticas como processos imanentes de devir, que devem ser vividos como um processo de desenvolvimento de maior liberdade. Semelhante à mídia tática, a motivação de Guattari era escapar do “impasse pós-moderno” 42. Ele estava preocupado com a possibilidade de um (auto-)posicionamento individual e coletivo que pudesse servir como ponto de partida para uma era “pós-mídia”, na qual “os meios de comunicação serão reapropriados por uma multidão de “sujeitos-grupos” 43. A proliferação de uma subjetividade baseada na mídia, portanto, não significa, necessariamente, mais um passo para a dissolução do social (cf. Baudrillard), mas pode permitir uma recombinação de práticas sociais. Tal (re) articulação do social, que se opõe ao quietismo pós-moderno, refere-se à abertura fundamental de qualquer “ordem social” – mesmo que esta ordem seja criada por meio de estratégias hegemônicas, nunca pode ser totalmente constituída por causa das contínuas diferenças dentro da social 44. É por isso que as práticas de mídia tática continuam a desempenhar um papel crucial, particularmente desde que a “ilusão estratégica face-à-face da mídia” 45 é apenas – de acordo com Guattari – o sintoma mais evidente de uma crise mais profunda: “o poder sugestivo da teoria da informação contribuiu para mascarar a importância das dimensões enunciativas de comunicação” 46. As mensagens não são apenas transmitidas, antes seu significado depende do quadro interpretativo de cada receptor.
Além da estrutura física da mídia (ou seja, o seu código), os aspectos ambientais, sociais e mentais agora passam ao centro de interesse para dominar a atual crise da mídia de massa: 47
“Através de três registros ecológicos de Guattari, o ambiente, a relação social e a subjetividade humana, a tecnologia desempenha um papel fundamental na intensificação da crise, mas, simultaneamente, é a arena onde as novas soluções devem ser encontradas” 48.
Em seu ensaio sobre as “heranças de mídia tática”, Eric Kluitenberg se refere ao debate ecológico da mídia dos anos de 1990 que surgiram do envolvimento com o trabalho de Guattari. Neste sentido, a difusão massiva das redes digitais e das tecnologias da Internet abriu um novo campo “ecológico”, no qual surgiram as novas formas de cooperação e troca, produção e distribuição. Com base no conceito de máquina de guerra de Deleuze e Guattari, foi tentada uma descrição sistemática da ecologia da mídia:
“A ecologia da mídia é uma máquina composta de vários níveis distintos: os níveis de meios e ferramentas e instrumentos relacionados, o nível da tática, em que os indivíduos e mídia estão integrados em formações; o nível de estratégia, em que as campanhas realizadas por essas formações adquirem um objetivo político unificado; e, finalmente, o nível da logística, dos contratos e redes de abastecimento, em que a prática da mídia está ligada aos recursos industriais e de infra-estrutura que a alimentam” 49.
E mesmo que as mídias táticas da década de 1990 fossem caracterizadas, principalmente, pela sua natureza temporária, elas não agiram em um espaço puramente virtual, mas tentou mesmo implementar oportunidades, que foram criadas pelas novas tecnologias de mídia, na sociedade real. Isso significava, por exemplo, que o desenvolvimento da infra-estrutura (especialmente na forma de servidores autogestionários) foi considerado importante, a fim de ser capaz de apoiar as iniciativas culturais, sociais e políticas.
Esta orientação estratégica distingue esses pioneiros da rede das atuais práticas de mídia (resistente). Hoje, as tecnologias de mídia digital se tornaram mais prevalentes do que nunca, e, como conseqüência, as práticas de mídia tática (como remixe, partilha e produção de conteúdo de mídia) penetraram em quase todos os aspectos da vida cotidiana: “Com o advento de empresas de hospedagem comerciais para blogs ou vídeos […] tornou-se muito fácil gravar, editar e distribuir mídia rica para grandes e pequenas audiências 50. No entanto, a maior parte da infra-estrutura de mídia que estamos usando está nas mãos de poucas empresas, portanto, que restabelecem o velho modelo de dominação da mídia de massa: “ao mesmo tempo, a captura comercial da infra-estrutura está criando novos pontos de estrangulamento onde a censura e o controle dos meios de comunicação pode e funciona eficientemente 51. Em outras palavras, a descentralização dos meios de produção foi acompanhada por uma centralização das relações de produção. Devido a este paradoxo, o interesse na construção de recursos autônomos, redes e infra-estrutura se tornou mais atual do que nunca. O ponto aqui não é tanto fazer crescer uma alternativa aos meios (de massa) convencionais, mas antes criar seus próprios meios, a fim de rearticular o campo hegemônico. Como Guattari telegrafou,
“Recusando a situação atual dos meios de comunicação, combinado à busca de novas interatividades sociais, para uma criatividade institucional e um enriquecimento de valores, isso já constituiria um passo importante no caminho para refazer as práticas sociais” 52.
A fim de ser capaz de cumprir isso, uma estratégia pós-media é necessária, que não considere a mídia nem como estrutura externa em termos de manipulação ou paradigma emancipação, nem como simples meio da luta para objetivos políticos, mas como ferramentas para moldar a nossa própria vida cotidiana.
This essay is part of a forthcoming anthology of writing on Post-Media published collaboratively by Mute Books and PML Books. See www.postmedialab.org for updates.
Footnotes
1 Joseph Vogl, ‘Becoming-Media. Galileo’s Telescope’, Grey Room, Fall 2007, no. 29, p.14-25.
2 Jean Baudrillard, In the Shadow of the Silent Majorities… or the End of the Social, New York: Semiotext(e), 1983, p.18.
3 Ibid. p.44.
4 One of the most prominent examples in this respect is Max Horkheimer and Theodor Adorno’s essay ‘The Culture Industry: Enlightenment as Mass Deception’ in Dialectic of Enlightenment, Stanford University Press, 2002, which was published in the beginning of the 1940s. In it the two founders of the Frankfurt School identify (mass) media as part of the more broadly defined culture industries. In their view, culture industries are responsible for the industrial standardisation of the cultural field, therefore hindering the formation of autonomous individuals. Culture is reduced to advertising, i.e. the unquestioned acceptance of the existing situation: ‘It is not only the standardized mode of production of the culture industry which makes the individual illusory in its products. Individuals are tolerated only as far as their wholehearted identity with the universal is beyond question. […] [O]nly because individuals are none but mere intersections of universal tendencies is it possible to reabsorb them smoothly into the universal’ (Horkheimer and Adorno 2002, p.124.). The reception of Adorno and Horkheimer’s work during the protests of 1968 had a great influence on the understanding of media technologies by leftist groups. In Germany particualrly, the discussion was for a long time influenced by the idea that technology is the sole cause of instrumental domination, a fact that finally prevented any critcial examination of these technologies; Hans Magnus Enzensberger, ‘Constituents of a Theory of the Media’, in Noah Wardrip-Fruin and Nick Montfort (eds.), The New Media Reader, Cambridge/London, MIT Press, 2003, p.261-275.
5 Ibid. p.265
6 Ibid. p.262.
7 Bertolt Brecht, ‘The Radio as an Apparatus of Communication’, 1932, in Media.Art.Net, http://www.medienkunstnetz.de/source-text/8
8 Ibid. p.262; The term ‘consciousness industry’ is basically in accord with the ‘culture industry’ (above).
9 The base-superstructure theorem is one of the essential concepts in Marxist theory, according to which the economic structure of a society (i.e. the totality of the relations of production which correspond to a certain development stage of the productive forces) provides the basis for the political, legal and ideological superstructure (i.e. the state and religious institutions, but also moral ideas). Thus, in ‘The German Ideology – Ideology in General’, (1844-46), Marx and Engels write about human consciousness: ‘Morality, religion, metaphysics, and all the rest of ideology and their corresponding forms of consciousness no longer seem to be independent. They have no history or development. Rather, men who develop their material production and their material relationships alter their thinking and the products of their thinking along with their real existence. Consciousness does not determine life, but life determines consciousness. In the first view the starting point is consciousness taken as a living individual; in the second it is the real living individuals themselves as they exist in real life, and consciousness is considered only as their consciousness’, in John Raines (ed.), Marx on Religion, Temple University Press, 2002, p.100. However, the relationship between base and superstructure, as Marx and Engels understood it, is not simply a causal relation, but a dialectical one.
10 Op. cit. p.261.
11 Ibid. p.267. As Noah Wardrip-Fruin notes in his brief introduction to Enzensberger’s text, this passage resembles the concept of the ‘rhizome’ (cf. Gilles Delezuze and Félix Guattari, A Thousand Plateaus, Minneapolis: University of Minnesota Press, 1987) with which Gilles Deleuze and Félix Guattari present an alternative model of knowledge production and representation of the world. The rhizome is based on the ‘principles of connection and heterogeneity: any point of a rhizome can be connected to anything other, and must be’, ibid., p.51. In the wake of the ‘counter-globalisation movement’ of the 1990s the rhizome then became a metaphor for the net-like information and organisation structure of the protests that made use of new media technologies: ‘In this case, new media have been used both to support the alternative organization of a social movement (more a network than a hierarchy) and to provide a different model of media consumption’, Wardrip-Fruin, in ibid., p.260.
12 Jean Baudrillard, ‘Requiem for the Media’, The New Media Reader, ibid., p.286.
13 Ibid. p.283.
14 Jean Baudrillard, ‘KOOL KILLER ou l’insurrection par les signes’, in, Interférences (No. 3), Fall 1975.
15Ibid., p.80. In his essay ‘Immediatism’ Hakim Bey, whose concept of the ‘Temporary Autonomous Zone’ had a great impact on the youth and protest culture of the 1990s, claims something similar when he emphasises the importance of new forms of playful immediacy: ‘Immediatism is not a movement in the sense of an aesthetic program. It depends on situation, not style or content, message or School. It may take the form of any kind of creative play which can be performed by two or more people, by and for themselves, face-to-face and together. In this sense it is like a game, and therefore certain rules may apply’, Hakim Bey, T.A.Z. TheTemporary Autonomous Zone, Ontological Anarchy, Poetic Terrorism, Autonomedia, 1991, p.10. Which kind of ‘rules’ these are, however, is not more fully explained.
16 Jean Baudrillard, ‘Requiem for the Media’, op. cit., p.281.
17 This and following quotations by Oliver Marchart are translated by the author. Oliver Marchart, ‘Marx und Medien – Eine Einführung’ Schröter, Jens/Schwering, Gregor/Stäheli, Urs (ed.), Media Marx. Ein Handbuch, Bielefeld (transcript), 2006, pp.45-58.
18 Ibid. p.52.
19 Antonio Gramsci, Selections from the Prison Notebooks of Antonio Gramsci, New York: International Publishers, 1992, p.263.
20 Ibid., p.53.
21 Stuart Hall, ‘“The Rediscovery of ‘Ideology”: Return of the Repressed in Media Studies’, in John Storey, (ed.), Cultural Theory andPopular Culture – A Reader, Essex: Pearson, p.124-155.
22 Cf. Nicos Poulantzas, State, Power, Socialism, London/New York: Verso, 2000.
23 Marchart, op. cit., p.55.
24 One may be reminded of Margaret Thatcher’s famous statement ‘There is no alternative’ which underlined her believe that economic liberalism, free trade and a neoliberal globalisation are the best ways for modern societies to develop. In 1992 political scientist Francis Fukuyama published his book, The End of History and the last Man , in which he argues that free market capitalism – after the collapse of ‘really existing socialism’ – is without any alternative.
25 Gramsci, op. cit., p.195.
26 The conference series Next Five Minutes (N5M), which focused on issues related to art, activism and new media technologies, took place four times: The first edition, held in January 1993, was still under the influence of the events that followed the collapse of Real Socialism in Central and East European countries. In March 1996, the second N5M dealt with the onset of the early internet boom. Just before the Kosovo conflict, in March 1999, the third N5M addressed the issues of modern media wars, as they had become apparent during the First Iraq War in 1991. The last edition of N5M, held in September 2003, examined the effects of 9/11 on social movements. Despite the far-reaching influence of N5M, the festival never had regularly scheduled meetings or an institutionalised structure. Cf. Geert Lovink, Zero Comments: Blogging and Critical Internet Culture, New York/London: Routledge, 2008, p 187.
27 David Garcia and Geert Lovink, ‘The ABC of Tactical Media’, nettime mailing list, 1997, http://www.nettime.org/Lists-Archives/nettime-l-9705/msg00096.html. The term ‘tactical media’ refers directly to the analytical distinction made by Michel de Certeau, ‘I call a “strategy” the calculus of force-relationships which becomes possible when a subject of will and power (a proprietor, an enterprise, a city, a scientific institution) can be isolated from an “environment”. A strategy assumes a place that can be circumscribed as proper (propre) and thus serve as the basis for generating relations with an exterior distinct from it (competitors, adversaries, “clienteles”, “targets”, or “objects” of research). Political, economic, and scientific rationality has been constructed on this strategic model. I call a “tactic”, on the other hand, a calculus which cannot count on a “proper” (a spatial or institutional localization), nor thus on a borderline distinguishing the other as a visible totality. The place of a tactic belongs to the other. A tactic insinuates itself into the other’s place, fragmentarily, without taking it over in its entirety, without being able to keep it at distance. It has at its disposal no base where it can capitalize on its advantages, prepare its expansions, and secure independence with respect to circumstances.’ See, The Practice of Everyday Life, Berkeley: Universtiy of California Press, 1988, p.xix.
28 Felix Stalder, ‘30 Years of Tactical Media’, in kuda.org (ed.), Public Netbase: Non Stop Future. New Practices in Art and Media, Frankfurt: Revolver, 2008, p.190-194.
29 Ibid., p.192.
30 Geert Lovink, Dark Fiber. Tracking Critical Internet Culture, Cambridge/London: MIT Press, 2002, p.23.
31 Ibid., p.266.
32 Ibid., p.255. According to Foucault, the ‘microphysics of power’ is relational, a power circulating between bodies, entities and institutions that cannot be fixed in terms of a specific system of rules. Hence, also the state is ultimately a manifestation of these power practices and contingent forces. Not only coercion and violence constitute the respective balance of power, but equally freedom, self-determination and consensual forms of action. Similar to Gramsci, Foucault states: ‘I don’t claim at all that the State apparatus is unimportant, but it seems to me that […] power isn’t localised in the State apparatus and that nothing in society will be changed if the mechanisms of power that function outside, below and alongside the State apparatuses, on a much more minute and everyday level, are not also changed.’ See, Michel Foucault, Power/Knowledge. Selected Interview and Other Writings 1972-1977, New York: Pantheon Books, 1980, p.60.
33 Critical Art Ensemble, Digital Resistance: Explorations in Tactical Media, Brooklyn: Autonomedia, 2001, p.5.
34 Ibid., p.6.
35 Ibid., p.8.
36 Lovink, Dark Fibre, op. cit., p.254.
37 Critical Art Ensemble, op. cit., p.6.
38 Félix Guattari, ‘Remaking Social Practices’, in The Guattari Reader, Gary Genosko (ed.), Oxford/Cambridge: Blackwell, p.262-272.
39 In particular, the autonomous radio stations of the 1970s and 1980s represent for Guattari an example of how ‘collective assemblages of enunciation’ can be produced and preserved. For instance, Radio Alice (1976-77), a collectively operated radio station in Bologna, adopted a two-folded strategy: on the one hand, the programme was created by as many groups and individuals as possible, on the other hand, these groups and individuals were not allowed to speak on the behalf of other groups or individuals – at the same time a universalisation of access and a singularisation of expression. Cf. Radio Alice, Collective A/travers (1977), Brooklyn: Pétroleuse Press.
40 Ibid., p.268.
41 Félix Guattari, ‘The Three Ecologies’, in new formations (No. 8), Summer 1989, p.133.
42 Félix Guattari, ‘The Postmodern Impasse’, in: Genosko, op. cit., pp.109-113.
43 Guattari, ‘The Three Ecologies’, op. cit., p.144.
44 Such a conception of the social considers social entities as generally open and indeterminate: None of them has absolute validity in the sense of establishing a social space or a structural moment which, in turn, could not again be undermined. Because ‘in a closed system of relational identities, in which the meaning of each moment is absolutely fixed, there is no place whatsoever for a hegemonic practice.’ See, Ernesto Laclau and Chantal Mouffe, Hegemony and Socialist Strategy: Towards a Radical Democratic Politics, London/New York: Verso, p.134. It is crucial in this context that any kind of hegemonic power is ultimately constructed in a pragmatic way – power therefore is never essential, but relational.
45 Baudrillard, Requiem for the Media, op. cit., p.284.
46 Guattari, ‘Remaking Social Practices’, op. cit., p.266.
47 Recently this crisis became visible in the European protests against the ‘Anti-Counterfeiting Trade Agreement’ (ACTA), a multinational treaty for the purpose of establishing international standards for intellectual property rights enforcement. For a big part of the so called ‘internet-generation’ this treaty was perceived as a direct attack on their way of life but also as a symptom of the corruptness of ‘the’ system as a whole. After decades of (more or less academic) debates about the status of intellectual property rights in the age of digital media, these protests finally brought tens of thousands of (mainly young) people onto the streets and marked a crucial point in the politicisation of this generation.
48 Eric Kluitenberg, ‘Legacies of Tactical Media: The Tactics of Occupation: From Tompkins Square to Tahrir, Amsterdam’ (Network Notebooks), 2011, p.21. http://networkcultures.org/_uploads/NN5_EricKluitenberg.pdf
49 Andreas Broeckmann, ‘Tactical Media/Media Ecology’, in N5M, 1995, http://www.n5m.org/n5m2/media/texts/abroeck.html
50 Felix Stalder, op. cit., p.193.
51 Ibid.
52 Guattari, ‘Remaking Social Practices’, op. cit., p.272.