OCUPANDO O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO

O que fica da nossa retomada das atividades de formação da Rádio Várzea…

… dentre tantas questões que foram, de forma rica e divertida, lidas e discutidas por nós (e que seria impossível, ainda bem!, aqui reproduzir):

“A legislação brasileira para comunicação está firmada num processo de concessão que só beneficia políticos e empresários, não garantindo meios democráticos para disseminação de uma informação livre de interesses, e muito menos para o exercício da nossa liberdade de expressão.

Então, aqui vai nosso recado: confisquem nossa antena, e duas outras surgirão. Destruam um transmissor, faremos dois! O Movimento de Ocupação do Latifúndio Eletromagnético não cessará enquanto o ar não for livre! O ar é de todos e precisa deixar de ser ferramenta de dominação das grandes corporações midiáticas que o Estado insiste em defender.” Manifesto da Rádio Várzea Livre: QUEM COMUNICA SE ESTRUMBICA!

“O ponto principal da contenda [entre as rádios livres e comunitárias] reside no fato de que os radioativistas não querem uma concessão nesses termos legais, sua demanda não é pontual, ao contrário, questionam leis absurdamente restritas às pequenas rádios e outras tantas obscuras negociadas diretamente com as grandes corporações, as quais quase a totalidade da população desconhece. O movimento de rádios livres é antes uma forma de manifestação anti-sistêmica.

De certa maneira, pode-se dizer que as rádios livres apóiam a construção de rádios comunitárias. Mas, na verdade, incentivam essas rádios a questionarem os caminhos que podem seguir. Pois se por um lado, uma rádio, em qualquer comunidade, pode constituir um grande passo à interação entre os moradores e seu cotidiano, por outro, pode tornar-se mais um instrumento unilateral e vertical de comunicação.

Toda essa história poderia ser mais um grande exemplo de iniciativas anticapitalistas, se não fosse tão séria a questão do monopólio da mídia no Brasil, em que a grande parte dos veículos de comunicação está concentrada nas mãos de apenas cinco corporações, constituindo, de fato, um grande oligopólio eletromagnético. Nesse contexto, a tentativa de se comunicar livremente, propor novas formas de organização e desconstruir os mesmos discursos é caso de polícia.” Por que calar as Rádios Livres?

“Nada substitui o olho no olho, o contato presencial, por isso, nas reuniões autogestionadas pelos membros, o incentivo à participação é permanente. Os radioamadores crêem que apenas manter um programa na rádio, colocar músicas e idéias no ar, é insuficiente se não há interesse em construir coletivamente o espaço, discutir não só os problemas técnicos, de manutenção ou de grana [dinheiro], mas também os debates contínuos sobre a própria prática. Pode até parecer estranho para aqueles que, ou acham que precisam pagar para se ter um programa nesse meio, ou que o divertido está só no momento da transmissão. Na verdade, os encontros coletivos é que guardam a possibilidade de serem gestadas novas formas de relações dentro e fora do movimento.

Porém, a prática das rádios livres extrapola a produção de programas e discussões, intentando lutar contra a homogeneização das informações assegurada pelo monopólio das grandes mídias e, para isso, a proliferação de muitas outras rádios, que questionem sempre a manipulação por meio desses órgãos, é a sua grande arma.” Por que calar as Rádios Livres?

“Na Rádio Várzea não há preocupação com profissionalismo ou excelência técnica. Gaguejar, o sotaque, errar a música, estourar o som, ficar em silêncio, não saber o que falar e o xiado fazem parte do dia-a-dia desse espaço onde o microfone é livre. É a gente mesmo quem faz.

A Rádio Várzea é um espaço de resistência, mas sobretudo de re-eXistência. Não estamos apenas interessados em negar esse sistema moribundo, nossa luta também é propositiva, é uma reinvenção da vida, do uso da palavra, da transmissão criativa, da comunhão sonora, da diversão, do devir, a imanência radiofônica, o fortalecimento dos vínculos afetivos, das amizades e das trocas de linguagem em torno de uma emissão livre, na freqüência 107,1 FM Livre. Porque o ar é livre! ONDAS LIVRES!” Manifesto da Rádio Várzea Livre: QUEM COMUNICA SE ESTRUMBICA!

“Novas sonoridades, novas musicalidades não somente para serem colocadas no ar. Junto com o play a busca de uma propagação de idéias que questione nossas vidas é imprescindível. Afinal, falamos de um microfone não autorizado, esse não é o espaço para a reprodução e sim para a subversão.

Outro momento de rompimento necessário foi nossa organização. Não acreditamos em pessoas inferiores e superiores, mandantes e mandados. Estabelecemos a igualdade das responsabilidades e decisões, negando relações hierarquizadas entre as pessoas desse coletivo. Aqueles dispostos a fazer acontecer essa rádio irão compartilhar das decisões e responsabilidades, uma organização que possibilite a troca de experiências entre todos.

Na busca de uma transformação da mídia, a Rádio Livre 106,7 [a frequência da Várzea em 2004, momento em que foi redigido esse manifesto — hoje a Várzea opera no 107,1] se funde com outras rádios livres, comunitárias, piratas, não comerciais para subverter o monopólio midiático e encontrar possibilidades de uma sociedade mais igualitária e livre”. Rádio Várzea: novas ondas, novas idéias

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