OCUPANDO O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO

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Arrepia e inspira — estamos iniciando nossas transmissões

A Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros 107,1 fm tem o orgulho de iniciar suas transmissões em 2013 publicando uma de tantas das nossas construções coletivas e horizontais.

Poderia ser um manifesto, uma nota de apoio, ou mesmo uma referencia a tantas lutas que nos inspiram, todavia é algo que não está longe, que nos é palpável, que nos propiciou e propicia a a oportunidade de andarmos lado a lado, que nos mostra que se unir frente aos inimigos (e tem uma par), independentemente do front em que combatemos, é sempre mais importante, mais bonito, mais politico, mais verdadeiro!

Essa transmissão tem o intuito de dizer que somos LIVRES, que SOMOS RÁDIO, e que em 2013 correremos fortemente na pegada, juntos e misturados com todos que assim como nós procuram um mundo horizontal, autogestionado, abaixo e a esquerda.

Por isso temos o prazer de compartilhar o texto que escrevemos para o livro recém lançado pelas Mães de MaioMães de Maio, Mães do Carcere – A Periferia Grita, que em sua luta incessante por um mundo onde caibam muitos mundos, nós mostra que não estamos sós e nem mal acompanhados, como dizem nossos parceiros do XEMALAMI.

Eis, então, o texto publicado:

O respeito pela militância das Mães de Maio sempre foi motivo de conversas nos programas e reuniões da Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros.

A cada dificuldade que temos em nosso dia a dia, enfrentando aqueles que querem nos calar sistematicamente, a cada desânimo que temos no nosso dia a dia militante com as contingências cotidianas para os membros de um coletivo que tentam se organizar à margem e para além dessa sociedade – nestes, e em outros tantos momentos, pensamos nas Mães de Maio.

Arrepia e inspira.

Porque o caminho mais comum após a tragédia calculada friamente pelo Estado que se acometeu em suas vidas, era que elas se calassem e voltassem de forma silenciosa para as suas casas. Porque é assim o cotidiano e é isso que os governantes e empresários esperam do povo negro e pobre desse país. Resignação, sofrimento individual e paciência – é isso que os senhores de cima esperam daqueles que sofrem injustiças. Tentar apenas pela via da lei significaria a esterilização de qualquer sentimento de revolta, de qualquer sentimento de esperança de que um dia a vida pode ser diferente. A lei tem lado – a justiça só é cega pra quem tá alienado.

Ao não se calarem perante aos milhares de entraves, ameaças, mentiras e todos os obstáculos que impedem às mães de terem o direito à verdade em plena democracia, o movimento das Mães de Maio desnaturaliza a história e mostra à todos que quem a IMG_3630constrói somos nós, seres humanos em movimento. Deixa à vista de todos que outra vida é possível de ser construída justamente no momento em que ela se desmorona – nada pode ser pior do que perder um filho.

Essa luta das Mães  se reflete dentro das nossas almas. O andar é tortuoso, perigoso e tenso – e é imprescindível, por isso, caminharmos lado a lado, para que juntos possamos chegar mais longe sempre, resistir à opressão, enfrentar a repressão e atacar os que tentam nos desarticular e desacreditar.

Quando montamos uma antena e ligamos o transmissor, quando  botamos a boca no microfone, imediatamente nos sintonizamos com as Mães de Maio e com todos aqueles que resistem e lutam por outras formas de se organizar e de se viver: transgredimos a lei, porque essa lei não nos serve.

Estamos certos de que a mesma ordem que impede as Mães de Maio de conseguirem a justiça e memória de seus entes atacados pelo Estado, também coloca cada vez mais obstáculos para nos comunicarmos livremente. Essa ordem insiste em nos dizer que nossa luta é ilegal, nos acusa de não estarmos seguindo as regras e que devemos ser pacientes e não termos pressa com a justiça. Ordem essa que apesar de querer mostrar que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa” não nos supera, pois, como dissemos acima, nossas lutas seguem o ritmo de nossos corações: abaixo e à esquerda.

Sabemos que nossa (r)existência coletiva significa golpes diários contra essa democracia mascarada e falsa, um sistemas que se esconde por detrás a face terrorista do capitalismo que massacra cotidianamente os desiguais de uma sociedade que entende por igualdade a uniformidade e a padronização da vida, onde o pobre negro favelado só aparece para o mundo nas notícias sobre o crime e nos páginas policiais.

Quando ocupamos uma frequência no latifúndio eletromagnético da comunicação, estamos organizando uma vida que nos diz respeito, que fala sobre nós para nós mesmos, que conta e compartilha coletivamente a nossa história. Não queremos hierarquias, lideranças, vereadores ou presidentes. Não somos adeptos de nenhum tipo de verticalização política e social, somos horizontais – e já que não nivelamos por cima, acreditamos que é possível se organizar coletivamente, abaixo e à esquerda. Não queremos nos legalizar e seguir uma ordem ditada por instituições que se dizem “democráticas”, na qual a liberdade de se organizar e se revoltar contra as injustiças não é permitida. 

Queremos apenas – e isso para nós é justamente o sentido de nossa luta – sermos donos das nossas próprias vidas, sem que ninguém nos arranque o sentido delas, como aconteceu com centenas de filhos em maio de 2006, em pleno Estado Democrático de Direito, e como se tem tentado infligir às Mães – que, além da perseguição sofrida,  pouco espaço tem para falar sobre a sua realidade e suas lutas.

E é justamente por essa linda e importante luta coletiva contra o esquecimento, que  somos parceiro@s das Mães de Maio até o final, pois estamos do mesmo lado, lado a lado. A organização e luta das Mães de Maio por justiça e memória significam a prática de uma outra sociedade, assim como organização e luta pela comunicação livre, um mundo onde caibam muitos mundos, onde não exista policia e onde não sejamos incitados diariamente a nos dividirmos e disputarmos entre si, mas sim a somarmos sempre, uns com os outros, como parceiros e aliados, dentro das nossas diferenças.

É por tudo isso que dissemos acima, e muito mais por aquilo que sentimos e não conseguimos ainda nem expressar por meio dessas breves palavras, que acreditamos que os nossos movimentos são indissociáveis. Se estivermos desunidos, seremos presas fáceis dessa falsa democracia – que dita atualmente a forma como vivemos – e daqueles que criminalizam fortemente as nossas lutas. Onde há uma voz se levantando contra a injustiça, haverá uma onda no ar propagando a liberdade.

RÁDIO VÁRZEA LIVRE — 107, 1 FM LIVRE! SINTONIZE, PARTICIPE E OCUPE O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO! DO LUTO À LUTA, COM AS MÃES DE MAIO!”

O livro se encontra a venda e tem salve de mais uma par de gente que corre lado a lado, quem quiser dar uma forca é só da um salve no maesdemaio@gmail.com, ou fala com nois memo.

Salve Mães de Maio, Salve Mães de Todo dia, Salve nossas Mães!

Estamos no Ar, LIVRES!

QUE VENHA 2013!

RÁDIO VÁRZEA LIVRE do RIO PINHEIROS — 107, 1 FM  – VIVÃO E VIVENDO!