OCUPANDO O LATIFÚNDIO ELETROMAGNÉTICO

Latest

Quem acordou!? O manifesto dos que não dormem

“Ordem para o povo, progresso para a burguesia. Tele-apatia.” (B. Negão – Enxugando Gelo)

 

De uma semana para outra, as mudanças ocorridas nas manifestações pelo Brasil nos obrigaram a direcionar o olhar para os novos agentes sociais envolvidos nas mobilizações. A alteração do discurso midiático surge como a grande causa para inserção de novos atores da sociedade brasileira no movimento de massas.

Essa mudança ocorreu a partir da extensão, aos jornalistas, da forte repressão policial impetrada contra os manifestantes, desde o 1º ato. Isso obrigou as corporações midiáticas a revelarem as cenas da violência da PM ao movimento, ao mesmo tempo em que transformaram o discurso de criminalização daquele, vigente até então, num outro, ufanista e legitimador da necessidade de reivindicações, convencendo à participação um setor conservador das classes médias.

A vitória do movimento pela redução do preço das tarifas do transporte coletivo motivou protestos em diversas cidades do país. A insatisfação coletiva diante dos diversos problemas de nossa sociedade foi combinada com a evocação de um nacionalismo festivo pela grande mídia, que ganhou vazão política nas manifestações justamente no momento em que a seleção nacional de futebol deveria servir para amenizar as tensões que compõem nosso cotidiano.

Assim, algumas expressões ganharam destaque entre os manifestantes, dentre as quais: “o povo acordou” e “sem violência”. Nos primeiros protestos, a referência dos gritos contra a prática de violência se dirigiam à ação policial que visava conter o bloqueio das vias mais utilizadas pelos motoristas. Em seguida, passou a ser usada de forma abrangente e acrítica para se reportar a qualquer atitude, de manifestantes ou policiais, que pudesse manchar a “boa imagem” do movimento, ou romper a ordem dentro da qual os atos devem transcorrer. Numa tentativa de introduzir um novo caráter político para as manifestações, a grande mídia passou a separar o “bom” manifestante, disciplinado, vestido e pintado com as cores da bandeira nacional, e pronto a defender a ordem, dos vândalos, baderneiros, e criminosos infiltrados na massa pacífica.

jovens-negros-maiores-vitimas-da-violencia-policial-diz-anistia

Violência invisível e violência ilegal

“[…] Achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas sentados, e tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a todos do templo, as ovelhas bem como os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio.” (João 2:13-16)

É urgente repensarmos a violência, seus diferentes conceitos e fundamentações, não somente nas manifestações e na cobertura jornalística, mas também em nossas lutas diárias.

Por ser um dos grandes monopólios do Estado, a violência é instrumento auxiliar ou fundamental de praticamente todos os projetos patrocinados pelo poder público. Em maior ou menor escala, dependendo da cor de pele, classe social, e da região onde residimos, a violência faz parte de nossas vidas.

Qual outro termo podemos utilizar para definir a ausência e precariedade dos serviços públicos assistenciais nas regiões periféricas, se não violência? Violência são os incêndios não investigados em favelas em nome da especulação imobiliária; é inverter os papéis históricos, e tratar os indígenas, não os fazendeiros e empreiteiras, como invasores de terra; é pagar caro pra pegar busão, metrô e/ou trem lotados, e enriquecer ainda mais as máfias do transporte coletivo; é favorecer o monopólio do direito à comunicação pelos grupos empresariais atuantes no Brasil; é a política urbana para moradores de rua se resumir a blocos de cimento pontiagudos embaixo de pontes construídas para veículos; é acobertar descaradamente a responsabilidade dos grupos de extermínio formados por policiais militares e civis nos massacres ocorridos nas quebradas de grandes cidades brasileiras nos últimos anos; é sustentar uma política de perseguição e encarceramento que mantém mais de 600.000 pessoas em penitenciárias que são verdadeiros depósitos de gente, sem acompanhamento médico, educacional e psicológico adequado; é não poder comprar um eletrodoméstico ou um móvel por estar com o “nome sujo” no SPC; é permitir que os bancos detenham tanto controle social e econômico sobre nossas vidas; é remover milhares de famílias do lugar em que vivem há anos para “abrigos” ou caixas de fósforo, em razão de eventos internacionais que não trarão benefício algum para os mais pobres, apenas para os bancos, especuladores, grandes empreiteiras, e empresas de comunicação.

Violência é transformar uma questão de saúde pública em projeto de higienização social; violência é a união de Executivo, Judiciário, e polícia militar para expulsar 1.500 famílias de suas casas e destruí-las com seus pertences dentro, para atender ao pedido de um milionário criminoso. Cracolândia e Pinheirinho: ambas ações amplamente aplaudidas e apoiadas pela grande mídia, e por muitos dos que hoje estão na rua a gritar “sem violência”.

A violência está aqui, sendo chamada de ordem, lei e paz há 513 anos.

Pinheirinho-1

E a violência popular, a que destrói patrimônio público e privado, que mancha uma imagem pacificada pela grande mídia, que ameaça a legitimidade das reivindicações, o que representa?

Tomando por base os exemplos citados acima, e tantos outros possíveis, pode-se depreender que os maiores promotores de violência da nossa sociedade são o Estado e a mídia corporativa (Rede Globo, Grupo Bandeirantes, RBS, Folha de SP, Estado de SP, SBT, Record, entre outros). Também é possível observar que os alvos principais da violência sistematizada são os pobres, os negros, os indígenas e as mulheres. Nesse sentido, julgamos fundamental fazer a defesa da depredação física e estética que atingiram prédios públicos, ônibus, agências bancárias, lojas de grandes redes de fast food, roupas, perfumes e/ou eletrodomésticos, concessionárias de veículos, veículos da imprensa empresarial, estações de metrô e trem, bases de apoio e viaturas da polícia, como formas claras de expressar a revolta coletiva contra todos estes símbolos e mecanismos de exercício do poder político e econômico que assola a parcela mais vulnerável da população.

Relevante apontar que a resistência física às investidas das forças do Estado contra a população em protestos que visam à transformação da ordem vigente deve ser legitimada como demonstração de não submissão à truculência com a qual a polícia e o exército tratam os conflitos sociais, bem como um questionamento concreto ao monopólio da violência pelo Estado.

Fifa-defende-direito-de-brasileiros-de-se-manifestar

Afinal de contas, quem acordou?

O jargão “o povo acordou”, ou mesmo “o gigante acordou”, assim como as bandeiras e cores que passaram a desfilar nos protestos, introduzidos a partir do espectro nacionalista que envolve o país durante campeonatos disputados por nossa seleção, revela a tentativa de homogeneizar os manifestantes, amortizando assim as contradições de classe presentes em nossa sociedade, cenário que facilita a despolitização dos objetivos das manifestações por indivíduos e agrupamentos conservadores reacionários presentes, através da difusão de “pautas comuns” e abstratas, como a luta contra a corrupção, ou a luta contra a PEC 37. Outro expediente utilizado pela grande mídia para minar as correntes de pensamento progressistas é extrair a mobilização de seu contexto histórico, a partir da filiação direta e recorrente com as manifestações pela saída de Fernando Collor da presidência, em 1992, movimento que ficou conhecido por seu caráter social unificador, suprapartidário, e pela abrangência nacional.

Ainda que não seja possível generalizar, pois entre aqueles que ostentam a bandeira do Brasil e lançam gritos nacionalistas ao ar certamente há muitos de consciência política inexperiente e imatura, que foram às ruas demonstrar seu descontentamento com um sistema político e um modo de gerir a vida e a sociedade que não nos contempla. O que fica é a preocupação com os rumos que a esquerda deve tomar na continuidade da luta, principalmente em embates como o que ocorreu no ato do dia 20/06, na Av. Paulista.

A luta do povo pobre brasileiro, dos movimentos sociais, começou muito antes de qualquer bandeira da classe média conservadora ter sido levantada. Os sofredores perifanos já estão acordados há anos, lutando por moradia, por saúde, por educação, por terra, por transporte coletivo barato e de qualidade, pelo fim da violência policial, por emprego, por lazer, enfim, por dignidade!

pinheirinho

A luta que fez eclodir o que acontece hoje no país é a luta do MPL pela mobilidade urbana, pelo direito à cidade para os mais pobres, uma questão social. A mudança de postura da imprensa corporativa, de encorajamento às ruas, vai muito além da sensibilidade com a ação violenta generalizada da polícia militar do dia 13. A violência policial não iniciou suas atividades no Brasil no dia 13 de junho, ela aconteceu antes e acontece todos os dias nas quebradas. Folha e Estadão, duas empresas que pediram a repressão dura às manifestações, o Grupo Abril, com sua revistinha semanal, que mudou o conteúdo de sua capa de última hora, curiosamente para apoiar os protestos; o Instituto Milenium, que tem seu porta voz (Arnaldo Jabor) na emissora de maior alcance nacional, a Rede Globo, todos estes tem como grande interesse ofuscar lutas sociais, seja através da criminalização, seja através da velha tática de só repercutir um protesto como legítimo quando as reivindicações não atacam os interesses de grandes capitalistas.

Existe uma intenção bastante visível das elites socioeconômicas, representadas pela mídia empresarial, de desestabilizar o Estado Democrático de Direito, dirigido atualmente por um governo de coalizão, parceiro do agronegócio, de grandes empreiteiras, do monopólio midiático, de especuladores, de conglomerados bancários ávidos pela privatização de estradas, ferrovias, portos, aeroportos; e promotor de políticas públicas sociais limitadas e compensatórias. Contudo, não podemos aceitar quaisquer investidas golpistas, já numerosas em nossa história política, contra a opção democrática eleitoral realizada por nossa sociedade!

O que propomos como horizonte não é a perspectiva de golpe institucional, mas sim a efetivação da democracia direta, que emana do poder popular, praticada cotidianamente, nas ruas, e não apenas nas urnas.

Queremos, dessa forma, compartilhar os posicionamentos já esboçados de fortalecer as lutas que estão sendo travadas nas regiões periféricas das grandes cidades, de fortalecer o apoio ao MPL. E propor a defesa da ação direta contra a polícia, prédios e bens do Estado, estabelecimentos comerciais de grandes empresas, agências bancárias, como uma maneira (não a única) legítima de tencionar a luta política, não condenada pela esquerda institucional.

A luta é por transformações sociais sim! E deve se distanciar dos velhos formadores de opinião, sedentos de um mundo desumanizado, pautado pelos interesses individualistas. Muito além do amor à pátria, a luta é pela solidariedade ao oprimido.

A luta é de classes.

human_rights_in_brazil_2_by_latuff22

Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros 107,1 FM

O aumento da passagem e a resistência!

Protesto em Teresina (Piauí) em 2011 que reverteu o aumento da passagem.

Protesto em Teresina (Piauí) em 2011 que reverteu o aumento da passagem.

O aumento das passagens para o uso do transporte público em São Paulo evidencia qual classe o poder público quer que tenha acesso a essa cidade, bem como o padrão de desenvolvimento e expansão econômica excludente adotado até aqui pelos “nossos representantes”. A precarização dos transportes nas áreas periféricas (ônibus, metrô, e trens lotados, desconfortáveis, etc.) associadas ao alto custo para deslocamento mostram o processo de segregação extrema encabeçado pelo Estado(-empresa) que administra São Paulo atualmente!

Aumentar o preço das passagens amplia o lucro das poderosas máfias dos transportes atuantes em São Paulo, no ABCDE, Osasco, Carapicuíba, Guarulhos, Mauá, Francisco Morato, Franco da Rocha, entre vários outros, ao mesmo tempo que prioriza o transporte individual (uma pessoa, um carro) e aprofunda as desigualdades dessa cidade. Soma-se a isso o extermínio da população jovem de periferia, os incêndios em favelas, e as desapropriações em massa. O estado é crítico. O Estado é omisso.

No ano passado, uma certa secretária de Habitação afirmou que “morar em São Paulo é pra quem tem dinheiro”. Não podemos aceitar essa cidade que nos querem enfiar goela abaixo! Podemos ver algumas experiências de coletivos autogestionados se organizando em toda a região metropolitana para resistir a esse modelo de transporte e sociedade que vem sendo imposto pelos poderosos grupos empresariais (financiadores de campanhas eleitorais!) em associação com o Estado.

A Rádio Várzea se soma a essa batalha porque acredita que a livre circulação de pessoas pela cidade é uma forma de democratização do acesso aos aparelhos sociais e políticos existentes em todas as regiões do município, inclusive os ligados à cultura e comunicação! Acreditamos que a luta é uma só e transversal: a apropriação popular dos meios de comunicação vem junto com a apropriação popular dos meios de circulação, que vem junto com o acesso à terra e à cidade!

3,20 é injusto e desnecessário, e não podemos nos conformar nem nos render! Felizmente vemos algumas movimentações na cidade demonstrando que o povo não aceita mais essa humilhação! É muito importante resistir! E essa luta só vai crescer…

 Ato contra o aumento das passagens na terça-feira, dia 17/06, com concentração a partir das 17h no Lgo. da Batata (próximo ao metrô Faria Lima). 

FORA POLÍCIA DO MUNDO!

VANDALISMO É COBRAR 3,20 DOS TRABALHADORES E ESTUDANTES!

Protesto na estrada do M´boi Mirim contra o aumento da passagem, no dia 03 de junho de 2013

Protesto na estrada do M´boi Mirim contra o aumento da passagem, no dia 03 de junho de 2013

Da Mídia Tática ao Pós-Mídia

Trilha sonora!

 

 

Salve! Seguindo o momento de expansão da mente e formação política acerca da comunicação livre em todas as suas possibilidades, temos a satisfação de publicar um texto muito massa traduzido por um parceiro da nossa livre e querida Rádio Muda, de Campinas!! Sem muitas considerações por ora, recomendamos a leitura. O texto segue abaixo e foi retirado da lista nacional de rádios livres:

radio

Refazendo as Pŕaticas de Mídia: da Mídia Tática à Pós-Mídia

http://www.metamute.org/editorial/lab/remaking-media-practices-%E2%80%93-tactical-media-to-post-media

By Clemens Apprich, 14 February 2013

trad. Thiago Novaes

Se a teoria de mídia compreendeu amplamente a mídia, ao longo dos últimos 40 anos, como irremediavelmente contaminada pelo capitalismo, o quietismo implícito desta crítica também encontrou seu desafio no conceito de Guattari de “tornar-se-mídia ‘. Aqui Clemens Apprich revisita debates políticos de mídia centrais para imaginar abordagens pós-mídia na era das mídias sociais.

O pressuposto de que as mídias “antigas” não são simplesmente substituídas, mas sim dialeticamente preservadas pela “nova” mídia é tão antigo quanto os estudos de mídia em si. No entanto, não é só a superação do antigo no novo que caracteriza o desenvolvimento de tecnologias de meios, mas o acoplamento dos formatos multimídia antigos também leva a uma sucessão de práticas que finalmente fornecem uma nova abordagem para estas tecnologias. Assim, desde o início do século XX, a mídia eletrônica (rádio, televisão, redes baseadas em computador, etc) tem sido afetada por uma inter-relação constante entre a experimentação de vanguarda e a distribuição em massa. O artigo que segue irá traçar algumas das práticas que fizeram uso de novas tecnologias de mídia, a fim de trazer a ideia de Felix Guattari de uma “era pós-mídia”: a transformação das estruturas de mídia clássicas rumo a novos agenciamentos coletivos de enunciação. Na teoria da mídia, esse processo foi acompanhado por um movimento dialético: primeiro nos anos de 1980, a teoria da mídia pós-moderna descartou a crítica da ideologia de Karl Marx e abandonou toda a esperança de um uso emancipatório das tecnologias de mídia, e, posteriormente, o movimento de mídia tática dos anos de 1990 rejeitou este ponto de vista quietista de teoria da mídia (acadêmico), a fim de reinventar novas formas de ativismo de mídia. Este “duplo desengajamento” finalmente abriu novos campos de agência contra-hegemônica, permitindo assim uma variedade de práticas de mídia que ainda são válidas em uma era pós-mídia. Este artigo, portanto, segue a premissa de que a transição da mídia tática para a pós-mídia não deve ser considerada como uma ruptura, mas sim como um “Tornar-se-mídia” dessas práticas que surgiram nos anos de 1990 NOTA1. Neste sentido, as práticas de mídia tática não desapareceram, mas foram incorporadas à vida cotidiana (pós-mídia).

Baudrillard vs. Enzensberger – First Disengagement

Segundo o teórico francês Jean Baudrillard, a massa “não é mais do que o grau zero da política”2. Com isso, Baudrillard apresenta o “grau zero” de significado social, a dissolução do político. Ao contrário da concepção do movimento político de massas de Marx, portanto, é irrelevante se as massas superaram sua suposta alienação, porque a própria massa é o lugar dessa alienação. Para Baudrillard, a massa atingiu o seu ponto culminante. Ela está acelerando em direção ao seu limite, que hoje é expresso como implosão social difusa, em vez de uma explosão revolucionária singular. Isto também se aplica em relação aos meios de comunicação de massa que, de um ponto de vista marxista, têm sido considerados há muito uma força manipuladora:

“Pensa-se sempre – e esta é a ideologia dos meios de comunicação de massa – que é a mídia que envolve as massas. O segredo de manipulação tem sido procurado em uma semiologia frenética dos meios de comunicação de massa. Mas isso foi esquecido, nessa lógica ingênua de comunicação, que as massas são um meio mais forte do que todos os meios de comunicação” […]3.

Assim, as massas não devem ser libertadas dos meios de comunicação, a fim de libertar o seu potencial revolucionário, mas, ao contrário, o meio tem de ser libertado das massas. Nesta visão mais apaziguada, as massas já não produzem mais o social, mas antes o simulam. Na “sociedade da simulação”, o social perde seu sentido, tornando impossível qualquer mudança política. Esta retirada do programa político do marxismo não está só em contradição com a desconfiança generalizada na teoria de esquerda, que vê na mídia (de massa) nada mais do que a manipulação (da massa), mas também, contrária a qualquer esperança de uma estratégia socialista de (re)apropriação da mídia (de massa), como sugerido por Hans Magnus Enzensberger em “Elementos para uma Teoria dos Meios de Comunicação”4.

Em seu ensaio, escrito em 1970, Enzensberger critica a renúncia de um uso emancipatório das novas tecnologias de mídia por membros da geração de 68. Para ele, está claro que a teoria socialista da mídia tem que se apropriar do “poder de manipulação” dos meios de comunicação, se não quiser ser impotente face aos desenvolvimentos tecnológicos:

“Qualquer uso da mídia pressupõe manipulação. Os processos mais elementares de produção de mídia, desde a escolha do próprio meio, o corte, a sincronização, a dublagem, até a distribuição, todas são operações realizadas na matéria-prima. Não existe tal coisa como a escrita, filmagem, ou radiodifusão não manipuladas. A questão não é, portanto, se os meios de comunicação são manipulados, mas quem os manipula. Um plano revolucionário não deve exigir que os manipuladores desapareçam, pelo contrário, deve fazer com que todos sejam manipuladores”.5

A mídia eletrônica constitui, para Enzensberger, uma nova força produtiva cujos sentidos práticos já estão nas mãos das massas. Entretanto, as relações dominantes de produção suprimiriam o “poder de mobilização” dos meios de comunicação, levando assim a uma despolitização das massas: “Na sua forma atual, aparatos como televisão ou filme não servem à comunicação, mas a impedem. Eles não permitem que haja nenhuma ação recíproca entre o transmissor e o receptor”6. Neste sentido, a transição de um simples aparelho de distribuição para uma verdadeira ferramenta de comunicação não é um problema técnico, mas político. Em referência à “Teoria Radio” de Bertolt Brecht, Enzensberger mostra que cada transistor de rádio, dada a natureza da sua construção, é não apenas um receptor, mas também um potencial transmissor7. A separação construída entre transmissores e receptores, portanto, apenas espelha “a contradição básica entre a classe dominante e a classe dominada”, entre a indústria de consciência e as massas controladas8.

De acordo com Enzensberger, a divisão entre produtores e consumidores não está inscrita na mídia eletrônica, mas pode ser atribuída às condições políticas, sociais e econômicas do sistema capitalista. Em sua argumentação, o modelo marxista de fases é claramente reconhecível, segundo o qual as forças produtivas em constante evolução (ou seja, naturais, técnicas, científicas, organizacionais e de recursos intelectuais) estão sendo presas pelas relações de produção vigentes (ou seja, as relações de propriedade, o trabalho , distribuição, circulação e consumo), formando, assim, um modo de produção específico (por exemplo, burguês/capitalismo). Assim, para Enzensberger, é óbvio que a mídia eletrônica faz parte da estrutura econômico-política, ou seja, parte da base material, não sendo simplesmente uma conseqüência da superestrutura ideológica: 9

Com o desenvolvimento dos meios de comunicação eletrônicos, a indústria que molda a consciência se tornou o marca-passo do desenvolvimento social e econômico das sociedades no final da era industrial 10.

A fim de libertar o potencial emancipador das novas forças produtivas das relações dominantes de produção, um modo coletivo de produção seria necessário, orientado para as necessidades e interesses das massas. Dada e repetida, por vezes, mas geralmente insuficiente como crítica das hipóteses emancipação, precisa-se esclarecer que Enzensberger não está simplesmente falando de “bricolage individual” (por exemplo, no salão de jogos de radioamadores), mas sublinhando a importância de novos modelos organizacionais:

Modelos de comunicação em Rede construídos sobre o princípio da reversibilidade dos circuitos podem dar indicações em como superar essa situação: um jornal de massas, escrito e distribuído por seus leitores, uma rede de vídeo de grupos politicamente ativos 11.

A chave para a sua argumentação é uma tentativa de descrever não apenas a mera proliferação de tecnologias de mídia, mas a sua ativação através desenvolvimento dos usos autônomos das ferramentas de mídia.

Em sua resposta, Jean Baudrillard compartilha a opinião de Enzensberger de que não é suficiente transformar simplesmente cada receptor em um transmissor, a fim de quebrar o poder das estruturas de mídia dominantes. Entretanto, para Baudrillard, a mera reversão do processo de comunicação também é insuficiente, porque “reversibilidade não tem nada a ver com reciprocidade”12. Segundo Baudrillard, a própria estrutura de mídia impede – independentemente do modo dominante de produção – qualquer forma de comunicação, porque o aparelho transcende qualquer “mudança real” no nível abstrato do código. O transmissor e o receptor podem realmente mudar de posição, mas assim só reproduzem o velho padrão de comunicação, dentro do qual um pode escolher o código da mensagem e o outro só tem a opção de aceitá-lo ou não. Assim, a mídia (eletrônica) não pode ser (re-) apropriada para um uso emancipatório. Em vez disso, Baudrillard apela por uma substituição do conceito de mídia (de massa) por meio de uma mediação radical:

A rua é, nesse sentido, a alternativa e forma subversiva dos meios de comunicação de massa, uma vez que não é, como os últimos, um apoio objetivado para as mensagens sem resposta, um sistema de transmissão à distância. É o espaço desgastado da troca simbólica de expressão – efêmera, mortal: um discurso que não é refletido na tela platônica da mídia 13.

Assim, uma verdadeira “revolução dos sinais” pode ocorrer, finalmente, fora dos meios de comunicação de massa, como Baudrillard tenta mostrar, usando o exemplo de graffiti 14. Apenas a “insurreição e erupção direta na paisagem urbana, como o local da reprodução do código” permite uma produção coletiva, que é capaz de evitar uma separação entre produtores e consumidores, entre emissores e receptores 15.

De acordo com Baudrillard, não há, portanto, coincidência no fato de que o “revolução da mídia” não tenha ainda acontecido, porque a possibilidade de uma tal revolução “pressupõe uma sublevação em toda a estrutura existente da mídia” 16. Assim, apenas “ações simbólicas” singulares são possíveis, o que pode irritar o sistema dominante, mas não pode vencê-lo. É por causa dessequietismo avassalador que Oliver Marchart vê na abordagem de Baudrillard ainda uma outra versão da tese da manipulação, ou seja, no ponto “onde a crítica da ideologia se transforma em afirmação subversiva” 17. Isso levanta a questão de como delinear uma forma de agência política que não esteja estruturada em uma definição determinista da mídia. Ambas suspeitam profundamente da relação ao poder de manipulação da mídia (paradigma da manipulação), bem como da grande esperança de seu potencial emancipatório (paradigma da emancipação), e, finalmente, apegam-se à ideia de que a mudança social (positiva ou negativa) pode ser derivada diretamente das estruturas tecnológicas: “em ambos os casos, porém com sinais invertidos, a argumentação tende a “reduções tecnicistas” 18. A maneira de sair deste dilema, de acordo com Marchart, surge de um terceiro paradigma da teoria da mídia marxista:. nomeadamente o a da política, que considera a mídia como aparatos hegemônicos.

Tactical Media – Second Disengagement

Uma teoria não-determinista da mídia tenta se libertar tanto do paradigma de manipulação, como remédio, bem como de um paradigma de emancipação excessivamente otimista, que enfatize o paradigma da política. Neste sentido, a questão não é mais se os meios de comunicação, pela natureza da sua construção, são manipuladores ou emancipatórios, mas até que ponto a mídia pode ser entendida como aparelho hegemônico. O conceito de hegemonia, cunhado por Antonio Gramsci, refere-se a um consenso politicamente produzido que constitui o senso comum de um determinado período histórico. Hegemonia serve como um elo entre a sociedade civil (que governa através de consentimento) e a sociedade política (que governa através da força), levando à fórmula bem conhecida: “Estado = sociedade política + sociedade civil, em outras palavras, a hegemonia protegida pela armadura da coerção” 19. O controle sobre o aparato coercitivo do Estado (especialmente a polícia, o judiciário e os militares) por si só não garante a preservação do poder político – ao contrário, exige o “consentimento voluntário” da população subalterna, com vistas a consolidar o poder. Assim, a mídia assume uma maior importância nessa perspectiva: “Os aparatos hegemônicos da sociedade civil são ambos terreno e meio de auto-afirmação dentro de uma luta hegemônica da posição” 20. Que função eles finalmente cumprem nunca está determinada a priori, mas surge a partir da “guerra de trincheiras” pela hegemonia cultural. Tudo mais, como a mídia transporta conhecimento social (em termos de imagens, valores, categorias, classificações e estilos de vida) contribui, portanto, para a construção da identidade hegemônica 21.

A hegemonia, portanto, descreve a capacidade dos grupos dominantes ou classes em estabelecer seus próprios interesses para que eles sejam finalmente considerados como o interesse geral por grupos e classes subalternas. Tal “consentimento dos governados” implica tanto a aprovação explícita das relações sociais existentes, ideias e práticas, ou, pelo menos, a sua aceitação passiva. No entanto, isso não é necessariamente um equilíbrio harmônico de interesses, mas sim uma “condensação” das lutas sociais 22. A resolução dessas lutas acontece através de compromisso social, em que os interesses relevantes (i.e. articulados) são constantemente renegociados. Assim, o acesso a tecnologias de mídia a fim de articular os interesses assume grande importância. A sociedade civil se torna o terreno preferencial em que a hegemonia se coloca, mas também é o lugar onde os conceitos contra-hegemônicos podem evoluir. É neste sentido que se pode olhar na mídia como instrumento político: “A emancipação (ou a manipulação), portanto, pode ser encontrada em políticas emancipatórias (ou de manipulação), e não nos aparatos” 23. Isto implica uma mudança na questão: o que interessa não é a dedução (otimista ou pessimista) das práticas sociais a partir da estrutura tecnológica, mas sim as relações de poder dentro da sociedade.

Uma parte essencial do poder hegemônico implica na capacidade de apresentar o status quo como sendo sem alternativas – se as pessoas estão contentes com ele ou simplesmente desistiram da esperança, não faz diferença para o exercício do poder 24. A hegemonia dominante materializa nas instituições do Estado e se torna a base para as decisões legislativas e executivas. Assim, o potencial emancipatório da agência em desafiar a estrutura discursiva é tão importante quanto a capacidade de agir no próprio terreno institucional. Consequentemente, as ações contra-hegemônicas também não podem ser representadas pela sociedade civil como um todo, porque elas não estão localizadas fora do estado dominante, mas antes contribuem (através de meios de comunicação, associações, instituições educacionais e culturais, etc.) para a sua constituição e reprodução. Assim, as noções e ideias alternativas inicialmente surgem em pequenos setores da sociedade civil, e não em seus mais poderosos:

“O que importa é a crítica de que tal complexo ideológico foi submetido pelos primeiros representantes da nova fase histórica. Esta crítica torna possível um processo de diferenciação e mudança no peso relativo que os elementos das antigas ideologias usadas possuíam. O que antes era secundário e subordinado, ou mesmo incidental, agora é levado a ser primário – torna-se o núcleo de um novo complexo ideológico e teórico. A antiga vontade coletiva se dissolve em seus elementos contraditórios, pois os subordinados se desenvolvem socialmente, etc”. 25.

O Estado e o público em geral continuam a ser áreas importantes de luta política, mas eles não estão necessariamente no centro dela. Agência contra-hegemônica é antes sobre o auto-posicionamento no campo mais vasto da hegemonia.

Um auto-posicionamento assertivo foi central para a “mídia tática” – uma nova forma de crítica da mídia, a qual, após a queda do Muro de Berlim, se espalhou por toda a Europa (e além). Um dos “berços” da mídia tática foi o Festival de Amsterdam “Next Five Minutes” (N5M), onde, no início e meados dos anos de 1990, uma nova geração de ativistas da Internet encontrou uma velha geração de ativistas de rádio e vídeo, levando a uma mudança na definição sobre o ativismo de mídia 26. “O ABC da Mídia Tática”, um quase-manifesto escrito por David Garcia e Geert Lovink, afirma:

“Mídias Táticas são o que acontece quando “faça-você-mesmo” barato de mídia, possibilitado pela revolução no consumo da eletrônica e nas formas expandidas de distribuição (do cabo de acesso público à Internet) são explorados por grupos e indivíduos que se sentem lesados ou excluídos da cultura mais ampla. A mídia tática não apenas relata eventos, pois eles nunca são imparciais e sempre participativos, e é isso, mais do que tudo, que os separa da mídia dominante” 27.

Isto já aponta para o fato de que na luta pelo poder hegemônico um papel de liderança foi atribuído às novas tecnologias de mídia nos anos de 1990. No entanto, a ideia de “faça você mesmo” da mídia é tão antiga como a de “mídia comunitária”, que surgiu nos anos de 1960, a fim de representar os interesses de minorias sociais, culturais e étnicas. Particularmente nos EUA, novas exigências legais obrigam as estações de TV comerciais a cabo a reservarem pelo menos um canal para programas não-comerciais, provendo uma base tecnológica e financeira para a radiodifusão independente. E durante os anos de 1970, a tecnologia de vídeo se desenvolveu rapidamente, resultando na assim chamada “revolução da câmera de vídeo” dos anos de 1980. 28

Na Europa, especialmente naqueles lugares onde já existia uma cena animada de “TV pirata e estações de rádio” (por exemplo, Amsterdam, Berlim, Londres, Bolonha, Vienna, mas também Ljubljana e Riga), provedores independentes de Internet (como a Cidade Digital em Amsterdam ou a Cidade Internacional de Berlim) surgiram com a introdução da WWW, em meados dos anos de 1990. Devido a estas iniciativas, bem como a uma nova queda no preço das tecnologias de informação e comunicação (principalmente o PC, mas também ao acesso mais barato à Rede), a Internet foi finalmente implementada como um meio de massa. Nesse ponto, nascia uma nova geração de ativistas de mídia: “Eles radicalizaram as ideias de meios comunitários, desafiando todos a produzirem seus próprios meios, em apoio às suas próprias lutas políticas” 29. Neste sentido, pode-se falar de uma segunda retirada: enquanto a teoria de mídia pós-moderna dos anos de 1980 (Baudrillard, Kittler, Bolz, etc.) virava uma crítica marxista da ideologia, os anos de 1990 assistiram a uma rejeição dessa “teoria especulativa de mídia”, a fim de inventar novas formas emancipatórias de agência contra-hegemônica 30. Este “duplo desengajamento” de uma teoria da mídia clássica, que postula meios de comunicação como ferramentas de programação ideológica, portanto, abriu uma nova perspectiva teórica no sentido de que não era mais apenas o reflexo das condições da mídia, mas sim sobre a co-criação destas condições (“A mídia determina a nossa situação”, como Friedrich Kittler disse e ficou famoso). É por isso que Geert Lovink, um dos iniciadores do N5M, escreve em retrospectiva:

“As elaborações de Jean Baudrillard sobre a simulação foram úteis nos anos de 1980, quando as mídias explodiram. Aproximando-se do [fim do] milênio, tudo parecia simulado e as elaborações de Baudrillard começaram a soar conservadoras e fora de contato com a atual realidade da Internet”. 31

Para se distinguir da crítica acadêmica da mídia (de massa), os teóricos da mídia tática consideraram suas práticas como “micro-políticas digitais” 32.

Post-Media Strategies

A Mídia tática descreve um conjunto de práticas que estão localizadas no cruzamento da arte, teoria, política, cultura, ativismo, tecnologia e mídia. Esta abordagem pluralista não só desafia a ideia de especialização, mas foi vista realmente como um processo de libertação feita por ativistas de mídia tática nos anos de 1990:

“Havia um sentimento de alívio entre as pessoas envolvidas na mídia tática, que poderiam ser qualquer tipo de híbrido cultural. […] Muitos se sentiram liberados da obrigação de se apresentar ao público como um especialista, a fim de ser um expert”. 33

Como o Critical Art Ensemble (CAE) nota crítica em seu livro sobre mídia tática, é precisamente esta “aversão ao tédio causado por atividade especializada redundante” que incentiva as pessoas a desafiarem a ordem existente com senso criativo 34. Nesse sentido, a mídia tática não se limita apenas à tecnologia digital, mas inclui todas as formas de mídias antigas e novas, a fim de atingir objetivos contra-hegemônicos. O que é importante neste contexto, é a apropriação coletiva dos diferentes formatos de mídia, com vistas a produzir novas formas de conhecimento: “Mais do que simplesmente fazer leitura crítica e teorização, os praticantes [de mídia tática] passam a desenvolver eventos participativos que demonstram a crítica através de um processo experiencial 35. A mídia tática, portanto, posiciona-se fora das instituições tradicionais (ou seja, universidades, instituições de pesquisa acadêmica, museus municipais, galerias, fundações políticas, centros culturais e de mídia), até porque o conhecimento gerado deve ser utilizado para desafiar as estruturas hierárquicas e abrir novos campos de possibilidades além destas instituições 36.

A ideia de uma apropriação coletiva e não-institucionalizada de cultura da mídia, bem como a experimentação conjunta com as novas tecnologias de informação e comunicação tem dado origem a um movimento (global) que desafia as estruturas dominantes (de mídia):

“Por um breve tempo, houve e continua a ser um alívio sobre a tirania da especialização do capital que nos obriga a agir como se fôssemos um conjunto fixo de relacionamentos e características, e para reprimir ou estritamente gerenciar todas as outras formas de desejo e expressão” 37.

Neste contexto, o conceito de “acordo coletivo libertador da enunciação” do CAE se refere à obra de Félix Guattari que, nos anos de 1980, já nutria a esperança de que formas coletivas de articulação poderiam substituir as velhas estruturas de mídia passificantes. De acordo com uma concepção não-determinista da mídia, ele destaca o fato de que o impulso de mudança reside nas práticas sociais, e não na própria estrutura tecnológica: “Obviamente, não podemos esperar um milagre com essas tecnologias: tudo vai depender, em última instância , da capacidade de grupos de pessoas em tomar posse deles, e aplicá-los para os fins apropriados” 38. Ligada a esta declaração está a questão de saber se e como as redes auto-organizadas podem preservar sua autonomia contra a mídia de massa 39. Agindo contrariamente às mídias de massa, que tendem a reproduzir a subjetividade consensual (ou seja, normativa), as mídias alternativas – de acordo com Guattari – permitem a criação de novos modos de subjetivação: “Estamos presenciando uma mutação da subjetividade que talvez supere a invenção da escrita, ou da imprensa, em importância” 40. No entanto, esta nova forma de “subjetividade assistida por computador” não é o simples resultado da mudança tecnológica, mas sim uma manifestação de micro-política que surgiu na esteira de uma nova apropriação de mídia 41.

Guattari considerava a formação destas micro-políticas como processos imanentes de devir, que devem ser vividos como um processo de desenvolvimento de maior liberdade. Semelhante à mídia tática, a motivação de Guattari era escapar do “impasse pós-moderno” 42. Ele estava preocupado com a possibilidade de um (auto-)posicionamento individual e coletivo que pudesse servir como ponto de partida para uma era “pós-mídia”, na qual “os meios de comunicação serão reapropriados por uma multidão de “sujeitos-grupos” 43. A proliferação de uma subjetividade baseada na mídia, portanto, não significa, necessariamente, mais um passo para a dissolução do social (cf. Baudrillard), mas pode permitir uma recombinação de práticas sociais. Tal (re) articulação do social, que se opõe ao quietismo pós-moderno, refere-se à abertura fundamental de qualquer “ordem social” – mesmo que esta ordem seja criada por meio de estratégias hegemônicas, nunca pode ser totalmente constituída por causa das contínuas diferenças dentro da social 44. É por isso que as práticas de mídia tática continuam a desempenhar um papel crucial, particularmente desde que a “ilusão estratégica face-à-face da mídia” 45 é apenas – de acordo com Guattari – o sintoma mais evidente de uma crise mais profunda: “o poder sugestivo da teoria da informação contribuiu para mascarar a importância das dimensões enunciativas de comunicação” 46. As mensagens não são apenas transmitidas, antes seu significado depende do quadro interpretativo de cada receptor.

Além da estrutura física da mídia (ou seja, o seu código), os aspectos ambientais, sociais e mentais agora passam ao centro de interesse para dominar a atual crise da mídia de massa: 47

“Através de três registros ecológicos de Guattari, o ambiente, a relação social e a subjetividade humana, a tecnologia desempenha um papel fundamental na intensificação da crise, mas, simultaneamente, é a arena onde as novas soluções devem ser encontradas” 48.

Em seu ensaio sobre as “heranças de mídia tática”, Eric Kluitenberg se refere ao debate ecológico da mídia dos anos de 1990 que surgiram do envolvimento com o trabalho de Guattari. Neste sentido, a difusão massiva das redes digitais e das tecnologias da Internet abriu um novo campo “ecológico”, no qual surgiram as novas formas de cooperação e troca, produção e distribuição. Com base no conceito de máquina de guerra de Deleuze e Guattari, foi tentada uma descrição sistemática da ecologia da mídia:

“A ecologia da mídia é uma máquina composta de vários níveis distintos: os níveis de meios e ferramentas e instrumentos relacionados, o nível da tática, em que os indivíduos e mídia estão integrados em formações; o nível de estratégia, em que as campanhas realizadas por essas formações adquirem um objetivo político unificado; e, finalmente, o nível da logística, dos contratos e redes de abastecimento, em que a prática da mídia está ligada aos recursos industriais e de infra-estrutura que a alimentam” 49.

E mesmo que as mídias táticas da década de 1990 fossem caracterizadas, principalmente, pela sua natureza temporária, elas não agiram em um espaço puramente virtual, mas tentou mesmo implementar oportunidades, que foram criadas pelas novas tecnologias de mídia, na sociedade real. Isso significava, por exemplo, que o desenvolvimento da infra-estrutura (especialmente na forma de servidores autogestionários) foi considerado importante, a fim de ser capaz de apoiar as iniciativas culturais, sociais e políticas.

Esta orientação estratégica distingue esses pioneiros da rede das atuais práticas de mídia (resistente). Hoje, as tecnologias de mídia digital se tornaram mais prevalentes do que nunca, e, como conseqüência, as práticas de mídia tática (como remixe, partilha e produção de conteúdo de mídia) penetraram em quase todos os aspectos da vida cotidiana: “Com o advento de empresas de hospedagem comerciais para blogs ou vídeos […] tornou-se muito fácil gravar, editar e distribuir mídia rica para grandes e pequenas audiências 50. No entanto, a maior parte da infra-estrutura de mídia que estamos usando está nas mãos de poucas empresas, portanto, que restabelecem o velho modelo de dominação da mídia de massa: “ao mesmo tempo, a captura comercial da infra-estrutura está criando novos pontos de estrangulamento onde a censura e o controle dos meios de comunicação pode e funciona eficientemente 51. Em outras palavras, a descentralização dos meios de produção foi acompanhada por uma centralização das relações de produção. Devido a este paradoxo, o interesse na construção de recursos autônomos, redes e infra-estrutura se tornou mais atual do que nunca. O ponto aqui não é tanto fazer crescer uma alternativa aos meios (de massa) convencionais, mas antes criar seus próprios meios, a fim de rearticular o campo hegemônico. Como Guattari telegrafou,

“Recusando a situação atual dos meios de comunicação, combinado à busca de novas interatividades sociais, para uma criatividade institucional e um enriquecimento de valores, isso já constituiria um passo importante no caminho para refazer as práticas sociais” 52.

A fim de ser capaz de cumprir isso, uma estratégia pós-media é necessária, que não considere a mídia nem como estrutura externa em termos de manipulação ou paradigma emancipação, nem como simples meio da luta para objetivos políticos, mas como ferramentas para moldar a nossa própria vida cotidiana.

This essay is part of a forthcoming anthology of writing on Post-Media published collaboratively by Mute Books and PML Books. See www.postmedialab.org for updates.

Footnotes

1 Joseph Vogl, ‘Becoming-Media. Galileo’s Telescope’, Grey Room, Fall 2007, no. 29, p.14-25.

2 Jean Baudrillard, In the Shadow of the Silent Majorities… or the End of the Social, New York: Semiotext(e), 1983, p.18.

3 Ibid. p.44.

4 One of the most prominent examples in this respect is Max Horkheimer and Theodor Adorno’s essay ‘The Culture Industry: Enlightenment as Mass Deception’ in Dialectic of Enlightenment, Stanford University Press, 2002, which was published in the beginning of the 1940s. In it the two founders of the Frankfurt School identify (mass) media as part of the more broadly defined culture industries. In their view, culture industries are responsible for the industrial standardisation of the cultural field, therefore hindering the formation of autonomous individuals. Culture is reduced to advertising, i.e. the unquestioned acceptance of the existing situation: ‘It is not only the standardized mode of production of the culture industry which makes the individual illusory in its products. Individuals are tolerated only as far as their wholehearted identity with the universal is beyond question. […] [O]nly because individuals are none but mere intersections of universal tendencies is it possible to reabsorb them smoothly into the universal’ (Horkheimer and Adorno 2002, p.124.). The reception of Adorno and Horkheimer’s work during the protests of 1968 had a great influence on the understanding of media technologies by leftist groups. In Germany particualrly, the discussion was for a long time influenced by the idea that technology is the sole cause of instrumental domination, a fact that finally prevented any critcial examination of these technologies; Hans Magnus Enzensberger, ‘Constituents of a Theory of the Media’, in Noah Wardrip-Fruin and Nick Montfort (eds.), The New Media Reader, Cambridge/London, MIT Press, 2003, p.261-275.

5 Ibid. p.265

6 Ibid. p.262.

7 Bertolt Brecht, ‘The Radio as an Apparatus of Communication’, 1932, in Media.Art.Nethttp://www.medienkunstnetz.de/source-text/8

8 Ibid. p.262; The term ‘consciousness industry’ is basically in accord with the ‘culture industry’ (above).

9 The base-superstructure theorem is one of the essential concepts in Marxist theory, according to which the economic structure of a society (i.e. the totality of the relations of production which correspond to a certain development stage of the productive forces) provides the basis for the political, legal and ideological superstructure (i.e. the state and religious institutions, but also moral ideas). Thus, in ‘The German Ideology – Ideology in General’, (1844-46), Marx and Engels write about human consciousness: ‘Morality, religion, metaphysics, and all the rest of ideology and their corresponding forms of consciousness no longer seem to be independent. They have no history or development. Rather, men who develop their material production and their material relationships alter their thinking and the products of their thinking along with their real existence. Consciousness does not determine life, but life determines consciousness. In the first view the starting point is consciousness taken as a living individual; in the second it is the real living individuals themselves as they exist in real life, and consciousness is considered only as their consciousness’, in John Raines (ed.), Marx on Religion, Temple University Press, 2002, p.100. However, the relationship between base and superstructure, as Marx and Engels understood it, is not simply a causal relation, but a dialectical one.

10 Op. cit. p.261.

11 Ibid. p.267. As Noah Wardrip-Fruin notes in his brief introduction to Enzensberger’s text, this passage resembles the concept of the ‘rhizome’ (cf. Gilles Delezuze and Félix Guattari, A Thousand Plateaus, Minneapolis: University of Minnesota Press, 1987) with which Gilles Deleuze and Félix Guattari present an alternative model of knowledge production and representation of the world. The rhizome is based on the ‘principles of connection and heterogeneity: any point of a rhizome can be connected to anything other, and must be’, ibid., p.51. In the wake of the ‘counter-globalisation movement’ of the 1990s the rhizome then became a metaphor for the net-like information and organisation structure of the protests that made use of new media technologies: ‘In this case, new media have been used both to support the alternative organization of a social movement (more a network than a hierarchy) and to provide a different model of media consumption’, Wardrip-Fruin, in ibid., p.260.

12 Jean Baudrillard, ‘Requiem for the Media’, The New Media Reader, ibid., p.286.

13 Ibid. p.283.

14 Jean Baudrillard, ‘KOOL KILLER ou l’insurrection par les signes’, in, Interférences (No. 3), Fall 1975.

15Ibid., p.80. In his essay ‘Immediatism’ Hakim Bey, whose concept of the ‘Temporary Autonomous Zone’ had a great impact on the youth and protest culture of the 1990s, claims something similar when he emphasises the importance of new forms of playful immediacy: ‘Immediatism is not a movement in the sense of an aesthetic program. It depends on situation, not style or content, message or School. It may take the form of any kind of creative play which can be performed by two or more people, by and for themselves, face-to-face and together. In this sense it is like a game, and therefore certain rules may apply’, Hakim Bey, T.A.Z. TheTemporary Autonomous Zone, Ontological Anarchy, Poetic Terrorism, Autonomedia, 1991, p.10. Which kind of ‘rules’ these are, however, is not more fully explained.

16 Jean Baudrillard, ‘Requiem for the Media’, op. cit., p.281.

17 This and following quotations by Oliver Marchart are translated by the author. Oliver Marchart, ‘Marx und Medien – Eine Einführung’ Schröter, Jens/Schwering, Gregor/Stäheli, Urs (ed.), Media Marx. Ein Handbuch, Bielefeld (transcript), 2006, pp.45-58.

18 Ibid. p.52.

19 Antonio Gramsci, Selections from the Prison Notebooks of Antonio Gramsci, New York: International Publishers, 1992, p.263.

20 Ibid., p.53.

21 Stuart Hall, ‘“The Rediscovery of ‘Ideology”: Return of the Repressed in Media Studies’, in John Storey, (ed.), Cultural Theory andPopular Culture – A Reader, Essex: Pearson, p.124-155.

22 Cf. Nicos Poulantzas, State, Power, Socialism, London/New York: Verso, 2000.

23 Marchart, op. cit., p.55.

24 One may be reminded of Margaret Thatcher’s famous statement ‘There is no alternative’ which underlined her believe that economic liberalism, free trade and a neoliberal globalisation are the best ways for modern societies to develop. In 1992 political scientist Francis Fukuyama published his book, The End of History and the last Man , in which he argues that free market capitalism – after the collapse of ‘really existing socialism’ – is without any alternative.

25 Gramsci, op. cit., p.195.

26 The conference series Next Five Minutes (N5M), which focused on issues related to art, activism and new media technologies, took place four times: The first edition, held in January 1993, was still under the influence of the events that followed the collapse of Real Socialism in Central and East European countries. In March 1996, the second N5M dealt with the onset of the early internet boom. Just before the Kosovo conflict, in March 1999, the third N5M addressed the issues of modern media wars, as they had become apparent during the First Iraq War in 1991. The last edition of N5M, held in September 2003, examined the effects of 9/11 on social movements. Despite the far-reaching influence of N5M, the festival never had regularly scheduled meetings or an institutionalised structure. Cf. Geert Lovink, Zero Comments: Blogging and Critical Internet Culture, New York/London: Routledge, 2008, p 187.

27 David Garcia and Geert Lovink, ‘The ABC of Tactical Media’, nettime mailing list, 1997, http://www.nettime.org/Lists-Archives/nettime-l-9705/msg00096.html. The term ‘tactical media’ refers directly to the analytical distinction made by Michel de Certeau, ‘I call a “strategy” the calculus of force-relationships which becomes possible when a subject of will and power (a proprietor, an enterprise, a city, a scientific institution) can be isolated from an “environment”. A strategy assumes a place that can be circumscribed as proper (propre) and thus serve as the basis for generating relations with an exterior distinct from it (competitors, adversaries, “clienteles”, “targets”, or “objects” of research). Political, economic, and scientific rationality has been constructed on this strategic model. I call a “tactic”, on the other hand, a calculus which cannot count on a “proper” (a spatial or institutional localization), nor thus on a borderline distinguishing the other as a visible totality. The place of a tactic belongs to the other. A tactic insinuates itself into the other’s place, fragmentarily, without taking it over in its entirety, without being able to keep it at distance. It has at its disposal no base where it can capitalize on its advantages, prepare its expansions, and secure independence with respect to circumstances.’ See, The Practice of Everyday Life, Berkeley: Universtiy of California Press, 1988, p.xix.

28 Felix Stalder, ‘30 Years of Tactical Media’, in kuda.org (ed.), Public Netbase: Non Stop Future. New Practices in Art and Media, Frankfurt: Revolver, 2008, p.190-194.

29 Ibid., p.192.

30 Geert Lovink, Dark Fiber. Tracking Critical Internet Culture, Cambridge/London: MIT Press, 2002, p.23.

31 Ibid., p.266.

32 Ibid., p.255. According to Foucault, the ‘microphysics of power’ is relational, a power circulating between bodies, entities and institutions that cannot be fixed in terms of a specific system of rules. Hence, also the state is ultimately a manifestation of these power practices and contingent forces. Not only coercion and violence constitute the respective balance of power, but equally freedom, self-determination and consensual forms of action. Similar to Gramsci, Foucault states: ‘I don’t claim at all that the State apparatus is unimportant, but it seems to me that […] power isn’t localised in the State apparatus and that nothing in society will be changed if the mechanisms of power that function outside, below and alongside the State apparatuses, on a much more minute and everyday level, are not also changed.’ See, Michel Foucault, Power/Knowledge. Selected Interview and Other Writings 1972-1977, New York: Pantheon Books, 1980, p.60.

33 Critical Art Ensemble, Digital Resistance: Explorations in Tactical Media, Brooklyn: Autonomedia, 2001, p.5.

34 Ibid., p.6.

35 Ibid., p.8.

36 Lovink, Dark Fibre, op. cit., p.254.

37 Critical Art Ensemble, op. cit., p.6.

38 Félix Guattari, ‘Remaking Social Practices’, in The Guattari Reader, Gary Genosko (ed.), Oxford/Cambridge: Blackwell, p.262-272.

39 In particular, the autonomous radio stations of the 1970s and 1980s represent for Guattari an example of how ‘collective assemblages of enunciation’ can be produced and preserved. For instance, Radio Alice (1976-77), a collectively operated radio station in Bologna, adopted a two-folded strategy: on the one hand, the programme was created by as many groups and individuals as possible, on the other hand, these groups and individuals were not allowed to speak on the behalf of other groups or individuals – at the same time a universalisation of access and a singularisation of expression. Cf. Radio Alice, Collective A/travers (1977), Brooklyn: Pétroleuse Press.

40 Ibid., p.268.

41 Félix Guattari, ‘The Three Ecologies’, in new formations (No. 8), Summer 1989, p.133.

42 Félix Guattari, ‘The Postmodern Impasse’, in: Genosko, op. cit., pp.109-113.

43 Guattari, ‘The Three Ecologies’, op. cit., p.144.

44 Such a conception of the social considers social entities as generally open and indeterminate: None of them has absolute validity in the sense of establishing a social space or a structural moment which, in turn, could not again be undermined. Because ‘in a closed system of relational identities, in which the meaning of each moment is absolutely fixed, there is no place whatsoever for a hegemonic practice.’ See, Ernesto Laclau and Chantal Mouffe, Hegemony and Socialist Strategy: Towards a Radical Democratic Politics, London/New York: Verso, p.134. It is crucial in this context that any kind of hegemonic power is ultimately constructed in a pragmatic way – power therefore is never essential, but relational.

45 Baudrillard, Requiem for the Media, op. cit., p.284.

46 Guattari, ‘Remaking Social Practices’, op. cit., p.266.

47 Recently this crisis became visible in the European protests against the ‘Anti-Counterfeiting Trade Agreement’ (ACTA), a multinational treaty for the purpose of establishing international standards for intellectual property rights enforcement. For a big part of the so called ‘internet-generation’ this treaty was perceived as a direct attack on their way of life but also as a symptom of the corruptness of ‘the’ system as a whole. After decades of (more or less academic) debates about the status of intellectual property rights in the age of digital media, these protests finally brought tens of thousands of (mainly young) people onto the streets and marked a crucial point in the politicisation of this generation.

48 Eric Kluitenberg, ‘Legacies of Tactical Media: The Tactics of Occupation: From Tompkins Square to Tahrir, Amsterdam’ (Network Notebooks), 2011, p.21. http://networkcultures.org/_uploads/NN5_EricKluitenberg.pdf

49 Andreas Broeckmann, ‘Tactical Media/Media Ecology’, in N5M, 1995, http://www.n5m.org/n5m2/media/texts/abroeck.html

50 Felix Stalder, op. cit., p.193.

51 Ibid.

52 Guattari, ‘Remaking Social Practices’, op. cit., p.272.

Alô!? Alô! Ouve!!? O que houve?!? Rádio Várzea no ar!!!

[Para ouvir lendo o post!
BNEGÃO E OS SELETORES DE FREQUÊNCIA – 2012 – SINTONIZA LÁ!]

A Rádio Várzea Livre tem orgulho de dizer que voltamos ao ar hoje a noite!! Seguimos em 107,1FM e estamos cobrindo da várzea do rio pinheiros até o metrô butantã! Nossa programação inicia-se no começo da tarde e vai até o fim da noite! Fique ligado no seu dial!

Sintonize, programe, participe: Reuniões todas as quintas-feiras às 18h30 no Espaço Aquário do prédio da História e Geografia da USP (ou UET – Universidade Elitistadual do Tucanistão)

Rádio Várzea Livre
—————Abraços Livres! —- Há Braços Livres! ————————————— 107,1FM  LIVRE —————————————–

E para além desse comunicado nesse maio de 2013, trazemos para o conhecimento de nossos fieis ouvintes-transmissores que há exatos trinta anos era publicado na Espanha um manifesto, o manifesto de Villaverde, que representou o díalogo entre vários encontros de coletivos de comunicação do país, principalmente entre membros de rádios localizadas no País Basco, na Catalúnia e em Valencia, que ocorreram desde o início da década de 80. Segue abaixo o manifesto, que estabelece a importância da autonomia, da autogestão participativa, da anti-profissionalização, da contrariedade à reprodução ampliada enquanto objetivo radiofônico, do enfrentamento radical contra qualquer forma de dominação e contra o latifúndio eletromagnético.

QUE EM TODAS AS VÁRZEAS DE TODOS OS RIOS HAJAM RÁDIOS LIVRES, PARA QUE TODOS POSSAM TER A POSSIBILIDADE DE NÃO SÓ RECEBER, MAS DE TRANSMITIR INFORMAÇÕES, ENFRENTAR O PATRIARCADO, A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E A POLÍTICA DE EXTERMÍNIO DA POPULAÇÃO POBRE. A VERTICALIDADE DO PODER HIERÁRQUICO É INIMIGA, E PARTICIPAR ATIVAMENTE DA CONSTRUÇÃO DE UMA OUTRA SOCIEDADE É VIA DE REGRA PARA UMA HUMANIDADE DE FATO.

RÁDIO VÁRZEA LIVRE 107,1 FM
ABAIXO E À ESQUERDA, SEMPRE.
SINTONIZE-SE, ANTENE-SE!

MANIFIESTO DE VILLAVERDE

En una sociedad cuya realidad está altamente centralizada e informatizada, donde los medios privados y públicos de comunicación son poder y están al servicio del poder, las RADIOS LIBRES surgen ante la necesidad y el derecho de toda persona individual o colectiva a expresar libremente sus opiniones y criticar y ofrecer alternativas en todo aquello que le afecta directa e indirectamente. Las radios libres nos caracterizamos por:

•Un carácter no profesional, entendiendo que la comunicación no debe ser un medio de lucro.

•Un funcionamiento autogestionario basado en la toma de decisiones de forma directa por todos aquellos que participan activamente en la vida de la radio.

•Somos autónomos. La radio libre se constituye al margen de todo grupo de presión político o económico que pueda o quiera alterar en su provecho el mensaje a difundir y, obviamente, rechazamos cualquier tipo de publicidad directa o indirecta.

•La radio libre es participativa. Está al servicio de la comunidad donde se integra, potenciando la unificación de los conceptos emisor/receptor.

•Las radios libres surgen como necesidad de llevar la comunicación al marco cotidiano y como lucha contra el monopolio y la centralización de la comunicación.

•Finalmente nos definimos como radios libres de todo compromiso que no sea el de difundir la realidad sin cortapisas y las opiniones sin limitación.
Las radios libres pretendemos potenciar toda una práctica de comunicación basada en un enfrentamiento radical contra todo tipo de relación social de dominación y, por tanto, apostamos por una forma de vida alternativa a la actual.

COORDINADORA DE RADIOS LIBRES 
Villaverde, 21-22 de mayo de 1983

______________________________________________________||______________________________________________

entre os documentos coletivos redigidos nessa série de encontros, há um muito interessante, uma “PROPUESTA PARA UNA RADIO LIBRE”, que segue abaixo em tradução livre:

PROPOSTA PARA UMA RÁDIO LIVRE

Entendemos como objetivo prioritário de uma rádio o de DAR VOZ À gente. Gente com maiúscula. É dizer, para todas essas pessoas que não têm em sua vida a oportunidade de expressar-se através de um meio em que comuniquem-se, no verdadeiro sentido de comunicação, com as demais.

Não partimos de utopias de comunicação. Quando falamos de gente, NOS REFERIMOS AOS SETORES QUE ATUALMENTE ESTÃO MARGINALIZADOS (SEJA CONSCIENTEMENTE OU NÃO) DE UM PROCESSO COMUNICATIVO, o que implica também, muitas vezes, os órgãos de comunicação dos partidos políticos, incluindo os sindicatos.

Como não somos masoquistas nem apóstolos, acreditamos que uma das pretensões da rádio é a de divertir as pessoas. Recuperando tudo o que de prazer, jogo, festa e portanto subversão há na diversão de verdade.

Consideramos que o termo “gente” engloba todos aqueles setores não afiliados a siglas concretas (políticas ou sindicais) que se definem genericamente como movimento e que se situam dentro do contexto de mudança social total e luta dentro da vida cotidiana. Não temos (vá em frente…) uma alergia especial a essas siglas, mas contamos com experiência suficiente em lomos ajenos [n. do t. :provavelmente experiências anteriores] (leia-se rádios livres europeias) para saber que uma rádio porta-voz de um sindicato ou partido político não se enquadra no que pretendemos. Isso não quer dizer que vamos fechar o microfone aos partidos políticos ou centrais sindicais. Só quer dizer que não queremos ser porta-voz de nada, para dessa forma dar, com toda independência e autonomia, a palavra a todos (que as querem, é claro…)

Pensamos que a rádio há de dar CONTRAINFORMAÇÃO em um momento em que uma suposta informação democrática silencia feitos importantes.

Também consideramos importante elaborar uma rádio-provocação, resgatanto-desviando o sentido de perigosas conotações policiais ou direitosas. Queremos provocar a palavra, a resposta nas pessoas que foram ensinadas unicamente a aceitar o que está posto.

Tampouco queremos fazer (os Hados nos liberam) [n. do t.: hado, na mitologia clássica greco-romana, é uma divindade ou força desconhecida que regia ou determinava o destino dos seres humanos e dos deuses] uma rádio militante no sentido ortodoxo do termo, uma rádio na qual o emissor se considera possuidor da verdade e a serve à sofrida receptadora. Pretendemos encontrar nas ondas UM LUGAR DE ENSAIO E DEBATE.

Consideramos também que em seu interior NÃO DEVE EXISTIR A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO tal como em qualquer empresa. É reafirmar que todos os element@s têm que ter um pouco de conhecimento técnico, tem que saber ler uma notícia ou fazer uma entrevista, independentemente se há uns que fazem melhor que os outros.

Quando nos referimos ao termo Movimento, consideramos que não se trata de uma rádio para divulgar os distintos setores dentro desse movimento (feministas, gays, objetores de consciência, ecologistas, etc.), mas sim uma rádio em que participem esses movimentos para dar uma sentido global à vida dos ouvintes. Aceditamos que desta forma a rádio pode servir tanto para expôr e difundir práticas autonômas que existem, quanto de lugar de encontro para o próprio Movimento (um dos lugares de encontro!)

Deve ser uma rádio desmistificadora (incluindo desmistificadora de si mesma) e de amorosa crítica construtiva, portanto “dura” dentro do movimento. “Nada de umbigos felizes” é nosso lema. Há que se deixar bem claro que, como não queremos utilizar a manipulação dos grandes meios de comunicação, um de nossos objetivos é a subjetividade total. Que nada leve ao engano.

E por último deve ser uma rádio que INCITE À COMUNICAÇÃO À MARGEM DA PRÓPRIA RÁDIO, que potencialize lugares de encontro entre os diversos setores de luta ou simplesmente entre pessoas distintas.

________________________________________________

Nós, da Rádio Várzea, nos emocionamos ao nos darmos conta da luta de mais de 30 anos pela comunicação livre, em todo e qualquer canto do mundo! Essa bela proposta de rádio dos espanhóis de outrora deve ser lida e relida, ser apropriada e reapropriada e jamais esquecido no passado longínquo. À luta somam-se todos os momentos de resistência, e a história se faz com luta, com criatividade, imaginação e principalmente, com coletividade e sem patifaria! A história que nos interessa será contada e cantada pelo povo, jamais pela voz de poucos, que esconde e abafa o grito dos quase todos. Saudamos a tod@s que somam nas lutas de forma horizontal e persistente!!! CHEGA PRA SOMAR NO GROOVE!!

S@udações Livres!!!

Festa da Grade de Programação da Rádio Várzea – É Dia 19/04/2013 (Sexta-Feira)

Nesta sexta-feira realizaremos nossa primeira celebração coletiva, a Festa da Grade.

 

Com discotecagem sob a batuta dxs programadorxs da Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros, e muito ânimo para dar continuidade a todas as lutas e trincheiras nas quais ainda teremos de nos embrenhar ao longo desse ano e dos próximos, gostaríamos de convidar a todxs para colarem e curtirem um pouco de livre som e ideias desamarradas!

FESTA-GRADE-CARTAZ_01

 

Rádio Várzea Livre 107,1 FM 

 

Pelo fim do Democracídio da juventude pobre das periferias brasileiras!

 

Fora PM do Mundo!

11/04 – Encontro de formação: O Machismo no meio dos meios de comunicação

Salve a Todxs!

Frmza?!

Nesta quinta-feira, dia 11/04, daremos seguimento aos nossos encontros de formação!

O tema dessa rodada é O MACHISMO NO MEIO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

o encontro é aberto à todxs!  às 18h, na rádio várzea – Espaço aquário – Prédio da História/Geografia da USP

Segue a lista completa de links e  mais dois textos que embasarão a nossa discussão

http://pt-br.protopia.wikia.com/wiki/Escutar_o_amarelo_-_a_geografia_e_o_calendário_da_diferença

https://rizoma.milharal.org/2013/03/29/a-construcao-do-masculino-dominacao-das-mulheres-e-homofobia-por-daniel-welzer-lang/

http://www.brasildefato.com.br/node/12167

https://www.nodo50.org/cntcatalunya/joomla/index.php?option=com_content&view=article&id=126:la-caida-del-imperio-macho&catid=45:antipatriarcal&Itemid=75

A mídia tradicional continua machista mesmo?

4 de Fevereiro de 2013

E você ainda tem duvida?

Os meios de comunicação são os principais mecanismos de opressão da vida e da liberdade e autonomia das mulheres, da manutenção do conceito de divisão sexual no trabalho no Brasil.Os veículos de comunicação são controlados por apenas dez famílias no país, dessas dez famílias pelo menos cinco tem ligações religiosas, tanto com a igreja católica, quanto coma a protestante, e pregam valores morais patriarcais, divulgando uma imagem da mulher na condição de mercadoria, submissa homem,e as outras cinco mantém o modelo tradicional , a nos induzir que devemos estar atentas a um padrão de beleza que possa ser consumido facilmente, mesmo que tenhamos de ser clientes habituais de farmácias que vendem fórmulas mágicas de emagrecimento ou clínicas de estética e academias nos dando a ilusão que para obter felicidade e bem estar temos que estar necessariamente preocupadas com o modelo de estética imposto associados a um padrão econômico cultural, que entra em conflito com o nosso discurso de autonomia e igualdade

A mídia ainda continua machista, quando o futebol, ou o Big Brother se tornam mais importantes do que casos de violência contra as mulheres. Com isso, eu me pergunto, quanto de vocês ouvem falar da Viviane Alves, por dia, na investigação ou em qualquer outro lugar? Quantas vezes você se lembra do caso da Eloá Pimentel? Quantas matérias você já viu sobre a lei Maria da Penha nos principais veículos de comunicação do país?

Na televisão, quando se fala de mulher, quais são os assuntos além de beleza, bem estar e saúde você vê? E como é ser uma mulher perfeita sendo obrigada a fazer diversos serviços domésticos como lavar, passar, cozinhar e ter que cuidar da casa e dos seus maridos?

Não basta ser mulher: tem de ser mulher, mantenedora, tem que lavar, passar, cozinhar, cuidar dos filhos, não pode estar triste deprimida (para isso existe os corretores de olheiras), sorridente e audaz, ela tem de fazer todas as suas tarefas, tilintando o salto Luis XV. Este é o formato ideal para mídia tradicional

São poucas as pautas que tratam do que realmente importa na vida das mulheres, a autonomia, o respeito e a igualdade.

Frequentemente vemos nas revistas artigos que mostram as mulheres que modificam a cor e o corte do cabelo, corpos, novas modas estéticas, novos chás, novas tecnologias que vão trasformar a vida da mulher em algo mais prático para os afazeres habituais. Ninguém está dizendo aqui para só falarmos de dicursos politícos, mas é um saco olhar a tv e assistir programas com mulheres de biquini expondo seus corpos publicamente de uma determinada forma pejorativo ou mesmo apresentando programas de fofoca, culinária ou beleza.

As novelas na sua maioria com aquele mesmo enredo chato, de mulher que se apaixona, trai, e é tratada como prostituta,limpando a casa, marido vem abraça etc, se bem que agora eles andam mascarando isso, dizendo que estão falando de temas como tráfico de mulheres e da situação da mulher de antigamente de um modo muito superficial. Óbvio. E sem gerar o mesmo interesse que geram quando o tema, é outro.

Mas quando o assunto é tratar da vida das mulheres, não aparece na globo, na record, no sbt, na bandeirantes, na rede tv, nos rádios, revistas e jornais. E, eventualmente, quando a matéria aparece, é completamente superficial e cheia de pré-conceitos, desvalorizando a luta dos movimentos de mulheres .

A mídia não se preocupa com questões sociais, e isso é um fato. E nas redes sociais vejo pouco interesse dos setores que se dizem progressistas em ajudar a causa feminista ou feminina, há muita presença virtual em determinados casos, e em outros temas considerados mais graves, não vejo repercussão.E enquanto ela, a mídia tradicional, puder manter este estereótipo, ela irá manter para continuar assegurando as suas bases burguesas solidificadas e monopolista, assim resta a pergunta final, se a midia que é o meio de comunicação mais influente não mudou. A opinião publica mudou?

Mas nós continuaremos nos manifestando até que sejamos todas livres!

 *Clareana Cunha é estudante de Ciências Sociais na Fundação Escola de Sociologia e Politica de São Paulo (FESPSP) e militante da Marcha Mundial das Mulheres- SP

A violência como instrumento de dominação

28 de Dezembro de 2012

*Por Clarisse Goulart Paradis

A violência contra mulher, também chamada de violência sexista continua sendo o principal instrumento de dominação das mulheres nesse sistema – capitalismo patriarcal. Ela atinge a todas as mulheres, independente de sua região, classe social e status econômico e pode ocorrer tanto no âmbito privado, quanto no âmbito público. Na maioria dos casos, a violência é exercida por pessoas que estão muito próximas das mulheres: maridos, amantes, namorados, pais, parentes, amigos e colegas de trabalho.

A violência é materializada de diversas formas – violência no âmbito da família e conjugal, violência sexual, tráfico, assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, etc. Essas e outras formas de violência que atingem as mulheres são reflexos das desigualdades entre homens e mulheres. No sistema capitalista patriarcal, as mulheres e seus corpos são considerados coisas, propriedade dos homens e devem, portanto, sempre estar a seu dispor. Em alguns momentos, as situações de violência vêm na forma de controle e ciúme. Ao contrário do que a sociedade, muitas vezes, associa esses valores a provas de amor, sabemos que não passam de sentimentos legitimadores de violência.

Além disso, um dos principais recursos utilizados para que os culpados escapem da punição é transformar as mulheres de vítimas em rés. Dizer que “foi ela que provocou”, que ela estava vestida de forma insinuante são falácias comuns de que os homens dispõem para responsabilizar as mulheres pela sua própria agressão.

Segundo a Secretaria de Política para as Mulheres (SPM), de primeiro de janeiro a 30 de junho deste ano, foram registrados 388.953 atendimentos pelo Ligue 180, o que representa uma média de 2.150 registros por dia. De acordo com o Mapa da Violência, em 2011, o Ministério da Saúde registrou 70285 atendimentos de mulheres no SUS, por danos gerados pela violência.

A situação da violência contra as mulheres é tão grave que em fevereiro deste ano, foi instalada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito Contra a violência à mulher. Após seis meses houve prorrogação do seu prazo devido à quantidade de trabalho, relatórios e denúncias geradas. Seu objetivo primordial é o de investigar a omissão do poder público na aplicação da Lei Maria da Penha.

 

Chega de violência sexual

A violência sexual é uma forma de violência que tem sido extremamente banalizada e que está fundamentada em uma noção de que as mulheres estão sempre disponíveis para o prazer sexual dos homens. A sociedade, por sua vez, continua a naturalizar uma noção de que a sexualidade masculina é tanto incontrolável, como insaciável, o que “legitima” as agressões e crimes. A violação do corpo das mulheres é também utilizada como instrumento em guerras e conflitos, como no bárbaro caso de estupro de uma indígena Guarani-Kaiowá, em pleno conflito de terras no Mato Grosso do Sul. Na cidade de Queimadas, na Paraíba, em fevereiro deste ano, nove homens estupraram 5 mulheres durante uma festa realizada por eles com o intuito de “presentear” o aniversariante com o estupro dessas mulheres. Foi um episódio revoltante, que não encontra no vocabulário uma palavra capaz de traduzi- lo. Em outubro, a banda baiana New Hit foi acusada de estuprar duas fãs que buscavam autógrafos e fotos dos integrantes. Durante o programa da Globo Big Brother, assistimos em tempo real, uma participante do programa ser estuprada depois de uma festa. Recentemente, a marca de camisinha Prudence veiculou uma propaganda incitando o ato sexual não consentido. Esses exemplos demonstram tanto o nível de violência e crueldade, quanto de descaso e naturalização desses crimes. Por outro lado, as vítimas são expostas, sua palavra é colocada em dúvida e, muitas vezes, a justiça não acontece, obrigando essas mulheres a se isolarem e viverem com medo e com ameaças. Em 2011, 13.000 mulheres foram atendidas no SUS, vítimas de violência sexual no Brasil.

Quem ama não mata

Sabemos que os crimes ditos “passionais” representam também a materialização do machismo e do patriarcado. Os criminosos tratam suas vítimas como coisas, objetos de sua posse, que não podem contrariá-los. Segundo o Mapa da Violência, o Brasil é 7º país que mata mais mulheres no mundo, com uma taxa de 4.4 assassinatos para cada 100 mil mulheres.

O número de mortes por meio de estrangulamento e facadas é muito maior quando as vítimas são mulheres do que homens, o que denota uma motivação machista, implicando sofrimento e dor. As ameaças e os crimes fazem parte de um esquema de controle das mulheres. Muitas vezes, estas pagam com a vida por exercer sua autonomia e por dar fi m a uma relação violenta e desrespeitosa. “Quem ama não mata” foi lema do movimento feminista nos anos 80 para denunciar os assassinatos de mulheres. Os homens não matam por amor, mas barbaramente por não aceitar a autonomia das mulheres, as suas escolhas e formas de agir. No Brasil, 41% dos assassinatos de mulheres ocorre dentro de casa e a maior parte das vítimas tem entre 15 e 29 anos.

*Clarisse Goulart Paradis é militante da Marcha Mundial das Mulheres em Belo Horizonte, Minas Gerais.

 

 

Combates pela esquerda: reuniões de formação na rádio várzea (esta quinta, dia 11)

Salve a tod@s,

A Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros é um coletivo de pessoas que há 11 anos vêm construindo sua luta diária por um outro mundo. Um mundo onde caibam vários mundos – mas que apenas será possível se acabarmos com esse.

Nessa caminhada, pessoas vêm e vão, (não necessariamente nessa ordem). O que fica na vida é o coletivo, marcado pelas pessoas, e as pessoas, marcadas pelas experiências do coletivo. Às vezes, parece que não nos damos conta do quão fundamental é esse processo para a formação de um novo mundo. Precisamos compartilhar nossas experiências. As vividas e a que estamos vivendo. Pois nenhum coletivo fica tanto tempo de pé, defendendo e atacando, publicamente, por aquilo que acredita se não olhar para si mesmo e para o mundo onde está.

Há tempos as pessoas da Rádio Várzea vêm sentindo necessidade de debater sua formação. Afinal, como saímos por aí fazendo oficinas de formação se não reservamos um espaço para nós mesmos nos formarmos? Como agir coletivamente, de forma coesa, sem apagar as diferenças existentes e necessárias no coletivo? O que entendemos por autogestão? Como os preconceitos, desigualdades e discriminações se reproduzem num coletivo? O que é defender a comunicação livre no Brasil após 27 anos de “democracia” e tantas inovações tecnológicas? Como defender justiça reproduzindo a mesma justiça do capital?! Tantas coisas para discutir… O tempo do coletivo não é o tempo do capital. Não temos pressa para discutir e agir. Mas, admitimos: não podemos mais deixar de pensar e deixar de conversar abertamente sobre a nossa formação.

Abaixo e à esquerda, nessa caminhada, as trilhas vêm e vão. Mudam de direção. Ou melhor, não tem direção. Somos um coletivo que se comunica. E que defende uma  outra comunicação.  @s Parceir@s,  que estão lado a lado, nem à frente nem atrás, estão mais do que convidad@s pra chegar, somar e tensionar. @s caga-regras, os que apontam dedo, podem fazer seus discursos nas grandes corporações. Lá, apreciam-se chefes e líderes.

A Rádio Várzea Livre publicará no seu site uma agenda de debates de formação que serão realizados ao longo do ano.  Pretendemos dar atenção a temas do coletivo e a questões que perpassam por toda a formação da esquerda. Sugestões de temas são mais do que bem vindas também!

Nós já realizamos uma formação, no último dia 16 de março. Lemos e debatemos alguns textos que abordavam os discursos construídos contra as rádios livres.

Nesta próxima quinta-feira dia 11 de abril, as 18h, trocaremos ideia sobre o machismo no meio do meios de comunicação. 

Já sugerimos dois textos para leitura (logo abaixo, os links). Se alguém quiser sugerir algum outro, à vontade, por favor! a ideia é discutir o machismo dentro dos meios de comunicação (organização e programação) a partir da leitura dos textos.

http://pt-br.protopia.wikia.com/wiki/Escutar_o_amarelo_-_a_geografia_e_o_calend%C3%A1rio_da_diferen%C3%A7a

https://rizoma.milharal.org/2013/03/29/a-construcao-do-masculino-dominacao-das-mulheres-e-homofobia-por-daniel-welzer-lang/

 

A Grade que grita por Liberdades: Programação da Rádio Várzea está no Ar!

Salve a todxs!

Temos o prazer de anunciar que nossa Rádio Várzea (sua também!) está a todo vapor, com um quadro de programas cheio de velhas e novas iniciativas  político-estéticas de ocupação do maior meio de circulação de ideias, ora controlado e monopolizado pelos latifundiários do ar.

De primeira, apresentamos a vocês o promissor Sambarilove: samba de resistência e alegria, amor e ódio. Todas as sextas no seu final de tarde e início de noite. Vem sambar que é nóis que tá no 107,1 FM!

Bezerra_Sambarilove

 

 

malandro_Sambarilove

 

Em breve novos programas chegarão junto na apresentação de suas propostas, ideias e objetivos. Aguardem!

eu COMUNICO, você COMUNICA, a várzea COMUNICA: NÓS COMUNICAMOS!

   No dia 18 de fevereiro de 2013, segunda-feira, nós da Rádio Várzea Livre do Rio Pinheiros, participamos de um momento de interação/intervenção na matrícula dos novos ingressantes na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH–USP).

 

Estávamos transmitindo livremente no vão do Prédio da História e Geografia com nossa antena, na frequência 107,1 FM, e também para o mundo todo pela internet, quando um homem, com crachá da USP se aproximou da rádio e ordenou que desligássemos o equipamento. Não bastou dois minutos de conversa pra ele começar a gaguejar e perceber que não serão ordens da administração que farão a gente se calar. No dia seguinte, o Ilustre diretor Sergio Adorno convocou uma reunião com os representantes discentes da FFLCH. Pauta única: “Rádio Pirata”. Uma reunião sobre a rádio várzea sem os membros da rádio várzea. Começando muito bem o seu mandato, Adorno.

 

     A Rádio Várzea Livre surgiu, durante a greve estudantil de 2002, para questionar o papel dos meios de comunicação existentes em nosso país e nesta universidade. Somos jovens e velh@s rebeldes e impuros que insistem em dizer e a propagar pelos ares o direito de se comunicar livremente e da forma como bem entendemos.

 

Durante esses dez anos temos enfrentado a repressão, independente do lado que ela venha. Esse não é o primeiro ataque que sofremos – seja daReitoria da USP, daAgência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), da Polícia Federal ou degrandes corporações empresariais-midiáticas  (os neobandeirantes). Em 2011,2012,2004 e2006 — fomos atacados e resistimos em todos esses anos.

 

Desde o início de 2012, essa ilustre corja de aliados ganhou a companhia da direção central da FFLCH. Primeiro com Sandra Nitrini e agora com o tal do Sérgio Adorno (Não o original, o farsante mesmo). Estamos sendo insistentemente ameaçados e sabotados, na calada da noite, pela direção. Nossas antenas vêm sendo arrancadas, aos fins de semana, por ordem da direção.  

 

Nós já fomos a congregação, já fizemos reuniões com a direção e nada muda. Permanece o discurso sonso e mequetrefe de que “rádio livre é ilegal/ fere a lei/ é um crime/ Não há nada o que se possa fazer”. Parece incrível, mas a direção da FFLCH, juntamente com o silêncio das chefias de departamento, tem se colocado ao lado da violência da lei e se recusado a discutir e a provocar o debate sobre a comunicação no país.

 

Mesmo depois de irmos a congregação no ano passado falar sobre a Várzea e o movimento de rádios livres,  ainda somos obrigados a ouvir que a Rádio Várzea é pirata pelo diretor Adorno! Estamos dialogando com que tipo de gente? Surdo é que não são. REPETINDO, ENTÃO: Somos uma Rádio Livre, não somos piratas ( nós não estamos atrás do ouro…a gente sabe quem tá); não queremos fama nem glória, muito menos pedir espaço mostrando nosso currículo invejável de realizações acadêmicas, como o Adorno fez na campanha para se eleger diretor na ultima eleição da FFLCH.  Aliás, só uma eleição antidemocrática como essa poderia eleger uma pessoa como o Sérgio Adorno. Até o Serra seria eleito na FFLCH.

 

Ocupamos nosso espaço, existindo durante esses 10 anos, fazendo politica diariamente, seja através da OCUPAÇÃO DO LATIFUNDIO ELETROMÁGNETICO, das conversas acaloradas sobre assuntos que nos tocam, em formações ou ações coletivas no espaço universitário. Tudo sempre de maneira publica, pois ocupamos um espaço publico e dele não sairemos.

 

A direção diz que a rádio não pode continuar transmitido, mas que incentivaria e apoiaria uma semana sobre comunicação na USP.  Resposta: Nós não apreciamos quem pratica o famoso “me engana que eu gosto”! Nunca precisamos de apoio para discutir comunicação livre todos os dias nos últimos 10 anos. E não existe discussão sobre comunicação sem a Rádio Várzea no ar.

 

O que queremos, é perguntar:

Por que a FFLCH se nega a discutir a comunicação em todos os aspectos?

Por que não encaram a Várzea de frente, ao invés de ficar chamando reunião na sala da diretoria? Todo mundo sabe onde fica a Várzea.

Por que ficam judicializando a questão e se negando a tratar dela politicamente?

Por que quando confrontados no aspecto da lei com outras interpretações (Há muitos casos de vitória das rádios livres na justiça), eles desbaratinam com um “Veja bem, tem que ver isso aí direito, vamos olhar” e nunca olham?  

Quem está pressionando a FFLCH–USP, dizendo que a Rádio Várzea Livre deve ser fechada? Será que a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), e seu mito da interferência, tem algo a ver com essa história?

E a Reitoria da USP, também está pressionando o diretor da FFLCH–USP para que a rádio livre encerre suas atividades? Ou essa coerção é fruto, na verdade, de uma ação concertada das grandes corporações empresariais-midiáticas  (os neobandeirantes) – interessadas que estão em defender a parte que lhes cabe nesse latifúndio do espectro eletromagnético?

Rádio Livre derruba avião?

 

     2013 começa quente e a Radio Várzea Livre do Rio Pinheiros, conforme o período de cheias e a despeito da monopopólio capitalista, vai ocupando as várzeas do pensamento retrógrado digno de um corpo moribundo e seguirá vivão e vivendo enquanto não houver um milhão de Alices no Ar.

 

 

Rádio Várzea Livre do Rio PinheirosSINTONIZE E PARTICIPE! 107, 1 FM LIVRE!

FORA POLÍCIA DO MUNDO!

Mídia e Cultura de Violência

O texto abaixo foi utilizado como disparador de discussão em uma das atividades do Fórum Pelo Fim dos Massacres, organizado em 2012 pela Rede 02 de Outubro como um dos espaços de discussão e memória do Massacre do Carandiru e de outros Massacres cometidos pelo Estado brasileiro.

No Brasil, vivemos em uma sociedade democrática, de direitos e deveres. Nem sempre foi assim, não são todas as formas de governo que ofertam direitos e atribuem deveres. Contudo, por estarmos falando exatamente do regime democrático, sabemos de antemão que tais direitos e deveres não são anteriores à existência humana. Pelo contrário, os pilares e as especificidades das democracias foram, são e sempre serão construídos por homens e mulheres.

Existem os direitos monopolizados pelo Estado, exercidos em função de interesses pautados pelo controle da economia, da política institucional, da educação, da comunicação. Entre estes, e para nós do coletivo Rádio Várzea, merecem destaque o direito de vigiar, de punir, de coagir através da violência sistematizada. Em outro sentido, mas não menos distantes da mão reguladora do Estado e da classe que o domina, existem os direitos adquiridos a partir de lutas sociais históricas, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Sistema Único de Saúde, a Educação pública e gratuita, o teatralizado direito ao voto, entre outros.

 maes de maio

Como dito anteriormente, em nossa sociedade democrática, o direito de gestão da segurança/violência pública (fazendo da Polícia e de outros aparatos militarizados o seu principal instrumento de ação) é exclusivo do Estado. Sobretudo porque sem este é impossível salvaguardar a relação recíproca reproduzida diariamente entre a defesa da propriedade privada, o desnivelamento social e econômico da população, e a punição daqueles (as) que se encontram à margem do que as leis e códigos penais definem como certo.

A partir desse pressuposto, o Estado fortalece instituições e políticas públicas que executam a tarefa de manutenção da legalidade, lançando mão de ações estrategicamente planejadas, que vão desde praticar a execução sumária de trabalhadores (as) por grupos de extermínio paramilitarizados, a culpabilizar quem não se enquadra no status quo através do encarceramento “juridicamente infundado” (para usar um termo caro aos mais conservadores) de uma quantidade gigante de menores de idade e mulheres e homens adultos, a maioria negros(as), pobres e moradores(as) de regiões periféricas das grandes cidades.

Esta política de perseguição e extermínio se manifesta de diversas maneiras. Atenção redobrada para a existência de polícias, diferentes nas fardas, não nos objetivos, que utilizam como argumento a defesa da propriedade pública e privada, que a mídia comercial nos ensinou a chamar de “Ordem!”, para justificar o terrorismo de Estado ao qual as populações empobrecidas e marginalizadas são submetidas todos os dias.

 Rota mata

Pensamos aqui em uma forma de violência midiaticamente velada, uma constante política do medo, pautada pela opressão sistêmica às camadas da população supracitadas. Curioso observar que os atos de violência propriamente definidos nem precisam acontecer de fato, apesar de a regra ser acontecerem cotidianamente. Eles habitam as mentalidades e colocam-se como instrumento real de efetivação desta política. Por exemplo, o simples fato de um policial militar andar pelas ruas com uma pistola .40 traz muito mais sensação de temor do que sensação de segurança, uma vez que conhecemos a atuação de nossos polícias ao longos dos séculos – de Tobias de Aguiar a Telhada – o modus operandi se mantém.

Também a imagem de um presídio (seja a fachada ou o pátio interno) produz em quem a vê uma sensação de opressão, de sofrimento, de perda do direito à Paz, à Justiça, à Liberdade, e à Esperança. Ou seja, tudo muito diferente do estímulo que deveria desmotivar qualquer forma de atuação que vá contra a tal sociedade democrática de direitos.

Nesse projeto, a comunicação torna-se instrumento de controle social e ideológico, na medida em que omite informações e vozes, e prolifera (no sentido mais infeccioso possível), de forma completamente acrítica, vazia, e desonesta, uma suposta dicotomia entre polícia x ladrão, bem x mal, marginalidade x estado. Constroem-se, assim, conceitos compatíveis apenas com as demandas de uma determinada classe, a dominante, e um determinado modelo socioeconômico: o neoliberalismo e seus pressupostos. Este mesmo modelo que vincula sonhos à aquisição de bens materiais, os quais a maior parte da população nunca terá acesso, por não possuírem meios, propriedades, heranças, nem acesso às numerosíssimas “oportunidades” que nos são concedidas pelo mundo do trabalho.

mulheres presas

Claro, falamos aqui de uma mídia privada e comercial, que atua de forma falaciosa no Brasil devido a permissividade do Estado, que privilegia conglomerados empresariais da comunicação, os quais não apoiam qualquer atuação social minimamente democrática sobre a regulamentação de uma Comunicação popular e abrangente, e que têm pavor ao ouvir falar em classes marginalizadas, defendendo somente parâmetros morais, políticos e sociais que os donos do Lucro reafirmam como “bons”.

Essa mesma mídia que engendra na população um sentimento de insegurança, um clima de guerra, uma polarização fruto da cultura de violência, segundo a qual o cidadão precisa escolher qual lado apoiará, oferecendo como outro lado uma cultura de paz, a paz de giroflex, fuzil, celas, presídios, colete à prova de balas, e sangue pobre derramado.

Rádio Varzea Livre do Rio Pinheiros, 107,1fm